HomeEcologiaEconomia

COP-27: o que agronegócio ganha com avanço no debate das finanças climáticas?

COP-27: o que agronegócio ganha com avanço no debate das finanças climáticas?Mercado de carbono, ainda que promissor, carece de regulação. Foto: CNA

Agroflorestas e recuperação do solo devem integrar Plano Clima
Países precisam de US$ 212 bi para lidar com mudança climática
Aquecimento global torna “seca agrícola” 3 vezes mais provável

 Por André Garcia

A expectativa sobre o protagonismo do Brasil nos investimentos em economia verde pauta a agenda do País na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2022 (COP-27),  no Egito. Monitoramento dos biomas, capitalização de serviços ambientais e desmatamento zero são alguns dos tópicos em evidência. Mas o que a agropecuária tem a ver com isso? Como o setor se beneficia destas políticas e o que pode se esperar do evento?

Para a diretora de Florestas, Uso da Terra e Agricultura da World Resources Institute (WRI), Fabíola Zerbini, esta é uma Conferência sobre clima e agricultura. Ao Gigante 163, ela explica que os painéis, que se estendem até 18 de novembro em Sharm El-Sheikh, funcionam também como um grande encontro de investidores e que, desta vez, os temas relacionados às finanças climáticas devem avançar.

É aí que o mercado brasileiro, e o de Mato Grosso, podem ganhar.

“Quando o país cumpre a lei e efetivamente adota práticas de sustentabilidade, que serão revertidas em ganhos ambientais para o mundo todo, isso pode ser pago.  É claro que esses mercados estão sendo estruturados, mas é nessas grandes conferências que temas assim avançam. O agronegócio tem muito a ganhar, não só por participar ativamente, mas também por ficar atento aos resultados dessas pesquisas”, explica.

Estrela do agronegócio brasileiro, Mato Grosso está exposto tanto aos benefícios quanto aos riscos que se apresentam à agricultura nacional. O Estado não só já entendeu este recado, como já tem resultados concretos com a atração de recursos a partir da agenda ambiental. Prova disso é que, em 2015, foi o primeiro do Brasil a firmar acordo de cooperação internacional com o Banco de Desenvolvimento Alemão (KfW Bankengruppe), dando origem ao REM-MT. A assinatura resultou em investimentos de U$ 30 milhões em políticas ambientais.

“Brasil está preparado”

Importante ponderar que esta lógica de um novo ciclo no mercado de serviço ambiental não se inaugura nesta edição da COP, mas começa a ser aprimorada. Com relação ao crédito de carbono, por exemplo,  o coordenador de Sustentabilidade da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Nelson Ananias, lembra que as transações globais ainda não estão implementadas e que o setor, ainda que promissor, carece de regulação.

“Há pequenas negociações com empresas na Califórnia, nos Estados Unidos, mas não é nada significativo. O Brasil está preparado, mas a própria COP  precisa aprimorar alguns detalhes. Um resumo do cenário atual é que temos carbono certificado, mas a transação ainda não está operacionalizada”, diz.

À reportagem do Gigante 163, ele contou que o setor já estabeleceu suas prioridades e que a CNA entregará aos negociadores brasileiros informações que subsidiem o debate. De acordo com ele, os números demonstram que práticas de sustentabilidade já fazem parte da rotina do produtor nacional, o que reforça a necessidade de normatizações relacionadas à diferenciação e adicionalidade.

“Precisamos estabelecer quanto da nossa contribuição para outros países é considerada para o cumprimento das nossas próprias metas. Outra questão é que o critério de adicionalidade precisa ser revisto, porque outros concorrentes não precisam cumprir com uma legislação tão rígida quanto a nossa.”

O critério de adicionalidade mencionado por ele diz respeito à comprovação de que as reduções e remoções de emissões de gases do efeito estufa (GGE)  associadas a um crédito de carbono não teriam ocorrido sem os incentivos ou recursos fornecidos pelo projeto de carbono. Logo, se um crédito especifico não corresponder a reduções que só ocorreram por causa do projeto de carbono, a sua utilização para compensações em outros locais simplesmente resultaria  em aumento nas emissões globais.

Tanto Fabíola quanto Nelson concordam que a segurança hídrica, climática e ambiental mantém a agropecuária como um negócio seguro, o que pode viabilizar mais investimentos e alavancar a economia. Portanto, a COP-27 será fundamental para que o país assuma papel de liderança na diplomacia climática global, negociando textos que beneficiem o planeta, mas que também assegurem recursos e financiamentos.

“A gente precisa entender que o agronegócio tem muito a ganhar com isso, abrindo portas para um investimento e colocando o Brasil efetivamente no seu lugar de liderança, valorizando o principal ativo, que são as riquezas naturais que são suas florestas e rios. Temos que saber aproveitar isso de uma forma inteligente. Não pode ser com uma postura defensiva, pelo contrário, é uma postura de liderança, proativa”, conclui Fabíola.

LEIA MAIS:

COP27: Brasil e mais dois países querem criar “OPEP das Florestas”

COP27: Pequenos agricultores alertam sobre “segurança alimentar global em risco”

Saiba o que é a COP27 e por que ela é tão importante

COP27: Governo do MT vai ao Egito com número recorde de desmate

COP-27: Agro tem vantagem econômica nas mãos se trilhar caminho da recuperação florestal

COP27: CNA propõe mecanismos contra mudanças climáticas para o agro