HomeEconomiaCOP-27

COP 27: Área preservada é ativo financeiro, defende presidente do Imac

COP 27: Área preservada é ativo financeiro, defende presidente do ImacFoto: Governo do MT

COP-27: Agro tem vantagem econômica nas mãos se trilhar caminho da recuperação florestal
COP27: Simples e barata, regeneração natural deve estar no topo das prioridades
COP27: Enquanto guardiões da floresta, indígenas e quilombolas demandam compensação

Por André Garcia

Embora 80% das áreas de plantio de soja, por exemplo, ocorram em imóveis onde não há evidência de desmatamento ilegal na Amazônia e no Cerrado, a agropecuária está diretamente ligada ao crime ambiental pela especulação imobiliária. Para combater a vilã, ou os vilões, é preciso encarar unidades de conservação como ativos financeiros.

A questão foi abordada nesta terça-feira 15/11, pelo professor associado de Gestão Ambiental e Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Raoni Rajão, durante a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 27), em Sharm El-Sheikh, Egito.

No painel “Integridade e Conformidade nas Cadeias Produtivas da Agropecuária” do Brazil Climate Hub, ele destacou que 2% dos imóveis na Amazônia e no Cerrado, registrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR), concentram 2/3 da área desmatada depois de 2008, o que significa que o crime está concentrado.

“O movimentador é a especulação de terra. Temos que entender que essa relação com a agricultura existe e é indireta, porque alguém vai comprar essa área desmatada daqui a cinco ou dez anos, depois que o crime prescrever. É uma terra barata, no norte de Mato Grosso um hectare custa cerca de R$ 5 mil”, explicou.

A partir desta lógica, uma das principais apostas dos desmatadores para ocupar as áreas devastadas é a pecuária extensiva, que carece de pouco investimento. Foi o que explicou durante o painel o presidente do Instituto Mato-grossense da Carne (Imac), Caio Penido.

“O cara invade uma terra pública, rouba dos outros brasileiros o patrimônio público e depois de um tempo vende essa terra por uma fortuna. Para ocupar a terra, ele coloca os bezerros. Se tiver mais valor uma área desmatada, a especulação será o primeiro drive de desmatamento”, disse.

Certeza de impunidade

A prática é estimulada pela comparação entre o custo de restauração, de cerca de R$ 3 mil por hectare, e o de semeadura de pastagem, normalmente feito com aviões agrícolas, de cerca de R$ 1.500. Ou seja, para o criminoso, é mais barato desmatar do que recuperar.

“O valor médio de áreas florestais para áreas desmatadas no mesmo município mostra essa valorização. Ao desmatar e abrir um pasto novo e mais barato, também há uma valorização de patrimônio de quase três vezes e, no caso da agricultura, de quase seis vezes”, afirmou Rajão.

Isso significa que a agropecuária está subsidiando o desmatamento a partir de duas expectativas principais. A primeira é a pressão no Congresso para anistiar os crimes ambientais cometidos nestas terras até 2018. A segunda é enganar o sistema de verificação das empresas e “lavar dados” para esconder a real origem dos produtos.

Ativo ambiental

Diante disso, Penido defendeu que uma das principais maneiras para resolver o problema é trabalhar a biodiversidade como ativo financeiro. No caso da pecuária, a questão deve ser trabalhada especialmente com o mercado europeu.

“Quando vamos falar de comércio justo é importante pagar pelo produto que garante conservação por lei, premiar ao invés de boicotar. A Europa precisa ajudar o país, que está tentando reverter um modelo de insustentabilidade que nasceu lá, pós-revolução industrial. Nós já seguimos esse modelo, mas chega”, defendeu.

Em âmbito estadual, Caio destacou iniciativas adotadas para enfrentar a questão, como a melhora na base cartográfica para acelerar a regularização, a reinserção e monitoramento de produtores excluídos da cadeia, implantação do Passaporte Verde para evitar novos embargos e checagem da rastreabilidade no abate.

“Hoje, 80% do gado já é verificado, principalmente por grandes empresas que fazem o abate. Essa régua precisa aumentar, por isso o Imac vai ceder um módulo de análise socioambiental no abate para indústrias menores. É preciso acreditar que somos capazes de fazer a lei funcionar, combatendo e fiscalizando o desmatamento”, concluiu.

LEIA MAIS: 

COP-27: Agro tem vantagem econômica nas mãos se trilhar caminho da recuperação florestal

COP27: Exemplo de MT reforça viabilidade da restauração florestal

COP27: Enquanto guardiões da floresta, indígenas e quilombolas demandam compensação

COP 27: Desmate pode reduzir 1/3 da vazão das águas dos rios do Cerrado

COP27: Brasil e mais dois países querem criar “OPEP das Florestas”

Brasil tem que oferecer segurança para financiamentos na Amazônia