Por André Garcia
Oito das principais gigantes de commodities do mundo se comprometeram a não comprar mais soja de fazendas ligadas à destruição de pastagens na América do Sul. A decisão se soma a compromissos anteriores e foi aununciada no sábado, 9/12, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28), em Dubai.
De acordo com a Reuters, a medida pode fortalecer a conservação do Cerrado brasileiro, considerado a savana mais biodiversa do mundo, já que pelo menos metade dessa região já foi destruída para dar lugar à agropecuária. Vale destacar que a agricultura, silvicultura e uso da terra respondem por mais de um quinto das emissões de gases de efeito estufa (GEE) responsáveis pelo aquecimento global.
Entre as empresas que aderiram ao compromisso estão Archer Daniels Midland, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus Company. Elas concordaram em não comprar mais soja de fazendas que tenham destruído qualquer vegetação natural não florestal na Amazônia, nas matas secas do Chaco ou no Cerrado até o final da década, conforme declarado por Petra Tanos, representante da Tropical Forest Alliance.
Importante para o Cerrado
Tanos ressaltou que essa ação é particularmente significativa para o Cerrado, a fronteira agrícola que mais se expande no Brasil e que engloba extensas áreas de pastagens. Em 2023, a destruição do Cerrado atingiu seu ponto mais alto em oito anos.
A Tropical Forest Alliance, uma iniciativa do Fórum Econômico Mundial que trabalha com empresas de commodities em questões ambientais, destacou que, além dos Estados Unidos, as maiores nações exportadoras de soja estão na América do Sul, onde a vegetação natural costuma ser removida para dar lugar a fazendas.
Em antecipação à COP28, algumas empresas anunciaram compromissos ainda mais ambiciosos. No mês passado, a Cargill declarou que eliminará o desmatamento e a conversão de terras de suas cadeias de abastecimento até 2025 no Brasil, Argentina e Uruguai.
A Archer Daniels Midland comprometeu-se a eliminar a conversão de terras entre seus fornecedores diretos até 2025 e entre fornecedores indiretos até 2027 em biomas sensíveis da América do Sul.
Histórico ruim
Contudo, é importante mencionar que o setor possui um histórico de não cumprimento de compromissos anteriores, como foi o caso em 2010, quando centenas de marcas de consumo prometeram atingir “zero líquido” de desmatamento até 2020, mas não conseguiram alcançar essa meta.
Como já mostrado pelo Gigante 163, neste ano, pela primeira vez, a Cargill foi responsabilizada por padrões internacionais relacionados ao seu rastro de desmatamento na Floresta Amazônica, na Mata Atlântica e no Cerrado.
Conhecida por ser a maior empresa privada dos Estados Unidos, com receita anual de US $ 165 bilhões, a Cargill é acusada de não monitorar adequadamente as grandes quantidades de soja que comercializa, deixando de identificar e eliminar as conexões com o desmatamento e abusos aos direitos humanos que perpassam a cadeia.
Ao lado da Bunge, ela também já foi nomeada como uma das principais importadoras de soja de áreas com risco de desmatamento.
LEIA MAIS:
França vincula Bunge e Cargill a cadeias produtivas de soja com risco de desmatamento
Gigantes do agro compram grãos de fazendas envolvidas em ilegalidades
Relatório revela empresários com mais sobreposições em terras indígenas
Produtor do MT é acusado de produzir soja em área de desmate
Cargill pode prejudicar agro do País por sua ligação com desmatamento
Queda no desmate reduz cobranças internacionais sobre commodieties brasileiras