Por André Garcia
Historicamente cultivado no sul da Bahia, na Mata Atlântica, o cacau desbravou nas últimas décadas a Amazônia paraense, garantindo ao estado do Norte o posto de maior produtor brasileiro. De olho nas demandas do mercado internacional por sustentabilidade, a expansão do setor ruma para outros estados amazônicos como o Mato Grosso e chega também ao Cerrado.
O Gigante 163 mostra como conservação da biodiversidade pode se converter em ganhos na região. Isso porque, uma das principais estratégias da produção de cacau atualmente diz respeito aos Sistemas Agroflorestais (SAF) e à recuperação de áreas degradadas.
Em estados como Pará e Rondônia, o fruto é produzido majoritariamente por agricultores familiares e em sistemas agroflorestais (Safs). O resultado é a recuperação de áreas degradas, cuja maior parte havia sido convertida em pastagens, a redução do fogo e do desmatamento na região.
De olho nos bons resultados obtidos na região vizinha, uma comitiva formada por 40 pessoas, entre agricultores familiares, indígenas, representante do Consórcio do Vale do Juruena, servidores públicos de Mato Grosso a percorrer as cidades de Ouro Preto do Oeste e Jaru, onde conheceram referências da cacauicultura rondoniense.
À frente do grupo, o engenheiro agrônomo da Empaer, Fabrício Tomaz Ramos, explicou que o uso de SAFs em propriedades de agricultura familiar e terras indígenas da Região Noroeste de Mato Grosso têm garantido uma produção que respeita o meio ambiente, recupera áreas degradadas e, ao mesmo tempo, auxilia na diversificação de renda de pequenos agricultores.
“A cacauicultura ainda é incipiente em Mato Grosso e sabemos que com tecnologia é possível alcançar produtividades elevadas, devido à similaridade edafoclimática com Rondônia. Aprender como o estado vem caminhando e se destacando no cenário nacional e internacional com a qualidade de amêndoas. É um ótimo exemplo a seguir”, disse Fabrício.
O Saf e o consórcio também são a aposta da startup de reflorestamento Belterra, que receberá investimento de R$ 33 milhões da Cargill para fortalecer a produção de cacau no norte de Mato Grosso e, de quebra, restaurar 1.000 hectares de áreas degradadas. Foi o que contou ao Gigante 163, o CEO do empreendimento Valmir Ortega.
“Nós vamos desenvolver diversas culturas anuais, garantindo renda de curto prazo. Se dependêssemos apenas do cacau, o retorno só começaria a ser observado a partir do terceiro ano. Então o que fazemos é criar uma estrutura florestal focada em alta rentabilidade. Temos modelagens financeiras que apontam para esses resultados”, pontuou.
De acordo com ele, com renda líquida de até R$ 10 mil por hectare, valor bem superior aos cerca de R$ 3 mil registrados pela soja, a fruta pode garantir desenvolvimento econômico e social a pequenos agricultores de Alta Floresta, Carlinda e Paranaíta.
Descarbonização
No momento em que o mercado internacional é pautado pelas boas práticas agrícolas, o potencial do cacau de manter as áreas preservadas e de recuperar áreas degradadas chama a atenção de grandes empresas. Neste contexto, outra vantagem competitiva é o sequestro de carbono garantido pela cadeia.
A Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), já certifica produtos que comprovem o processo de descarbonização com o selo “Cacau Carbono Neutro Brasil”, agregando valor às amêndoas. Para ilustrar o potencial da estratégia, a Ceplac cita os resultados de duas pesquisas.
A primeira, realizada pela Universidade Federal do Pará (UFPA) em parceria com o Centro de Pesquisa do Cacau, apontou que no SAF com cacaueiros o sequestro de CO2 foi de 124 toneladas por hectare no estado. Já na Bahia, o Instituto Arapyaú mostrou que a Cabruca, modo de cultivo agroflorestal onde árvores nativas fazem sombra aos cacaueiros, sequestrou cerca de 70 toneladas por hectare em 17 fazendas analisadas.
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