Por André Garcia
Mato Grosso responde por 38% dos 2.870 km² degradados na Amazônia em agosto deste ano. Segundo levantamento do Imazon, a destruição alcançou mais de 100 mil hectares, colocando o estado na segunda colocação no ranking nacional, atrás apenas do Pará, que concentrou 45% da área afetada no bioma.
Como já mostramos, diferente do desmatamento, que é a remoção total da vegetação, a degradação se caracteriza pela perda parcial da cobertura vegetal, que ocorre pelo fogo ou pela extração de madeira.
Dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Imazon, apontam que entre todos os estados amazônicos, a degradação foi 11 vezes maior do que a detectada no mesmo período de 2023, de 258 km². Além disso, agosto foi o terceiro mês consecutivo de alta na área de floresta degradada na região.
“Alguns estados têm apresentado uma elevação alarmante na degradação. Essa situação gera vários impactos para as populações, tanto as comunidades tradicionais quanto as que vivem nos centros urbanos, que sofrem com as consequências desse dano ambiental na saúde e na oferta de alimentos”, explica a pesquisadora do Imazon Raissa Ferreira.
Queimadas e desmatamento
De acordo com Raissa, mesmo para esse período, quando normalmente há um aumento dos registros de fogo como prática tradicional para limpeza de áreas de cultivo e pasto, os números registrados são considerados elevados.
“Os dados ressaltam que as pressões sobre o bioma continuam a aumentar. As queimadas, que são um dos impulsionadores da degradação florestal, se tornam cada vez mais intensas e ocorrem em um ritmo alarmante. Isso reforça a necessidade urgente de ações focadas no combate e controle, além de equipar os órgãos ambientais de fiscalização para que consigam monitorar de forma ágil e em tempo real as regiões sob ameaça”, completa a especialista.
O desmatamento também cresceu pelo terceiro mês consecutivo. Os dados do Imazon apontam que foram desmatados 662 km², o que equivale a destruição de aproximadamente 2.135 campos de futebol por dia de floresta. Em comparação com agosto do ano anterior, o aumento foi de 17%. Porém, quando se observa a série histórica para o período mensal, esse é foi o segundo menor território desmatado desde 2018.
Emergência climática
Carlos Souza Jr, coordenador do Programa de Monitoramento da Amazônia do Imazon, também fala sobre a relação entre este cenário e a emergência climática, que aumenta a vulnerabilidade do bioma às queimadas.
“Tivemos uma seca severa em 2023, que se repete em 2024. Inclusive, já foi possível detectar a perda de superfície de água em junho deste ano. No ano passado, essa perda foi registrada em setembro. O cenário requer uma mudança radical nas práticas de manejo baseadas em queimadas”, argumenta o pesquisador.
Neste contexto, o Imazon destaca a urgência de ações governamentais, que devem priorizar o combate ao fogo em áreas protegidas, que são essenciais para a preservação da biodiversidade.
“Temos que zerar o desmatamento diante da emergência climática. Secas extremas recorrentes já estão soando o alarme, e os governos, as empresas e a sociedade precisam entender que não há mais tempo. Precisamos agir agora”, conclui Carlos.
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