Por André Garcia
Especialistas do Instituto Centro de Vida (ICV) apontam dúvidas sobre a possibilidade de que Mato Grosso alcance a meta de redução do desmatamento prevista em compromissos internacionais. Na quinta-feira, 30, na Conferência do Clima de Dubai (COP-28), nos Emirados Árabes, o tema certamente será levantado nos debates.
O Estado perdeu 2.086 km² de florestas nativas de agosto de 2022 a julho de 2023, um aumento de 8% em relação ao levantamento anterior, segundo os últimos dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobre a taxa oficial de corte raso medida nos nove estados da Amazônia Legal ao longo de um ano-calendário.
“Este cenário mantém Mato Grosso distante de alcançar as metas estabelecidas em seus planos e estratégias estaduais e cumprir o compromisso internacional assumido durante a Conferência do Clima em Paris, em 2015, de reduzir o desmatamento, atingindo 571 km² por ano até 2030”, diz a entidade, em um trecho de relatório divulgado no dia 22/11.
Os dados são do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) e mostram ainda que cerca de 72% dessa área foi derrubada sem autorização. Além disso, 78% do desmatamento ocorreu em imóveis cadastrados no CAR, seguido por imóveis não cadastrados (15,4%).
No conjunto da região, houve redução de 22% na taxa de desmatamento. Em Mato Grosso, porém, o ritmo da destruição da floresta seguiu o caminho inverso, o que causa preocupação entre os especialistas.
Ilegalidade
Os dados do Prodes mostram que o Estado foi o segundo da Amazônia Legal com mais área desmatada, atrás somente do Pará. Foram quase 5 mil polígonos de desmatamento detectados, sendo que apenas 180 deles responderam por 53% de toda área desmatada.
“Do total mapeado em 2023, 72,5% foi realizado em áreas sem autorizações válidas para desmate ou para supressão de vegetação emitidas pelo órgão ambiental estadual”, aponta o ICV
A maior parte das derrubadas ilegais (75%) ocorreu em imóveis rurais com registro no Cadastro Ambiental Rural (CAR) e quase a metade em grandes imóveis com mais de 1.500 hectares.
“No caso dos imóveis cadastrados, o desmatamento ilegal é altamente concentrado. Toda a área destruída se concentrou em apenas 1.258 imóveis”, aponta o relatório.
Neste ano, chamou a atenção o aumento expressivo dos desmates autorizados, que somaram 528 km², quase 23% a mais em relação ao levantamento anterior.
Ranking municipal
Mais da metade da derrubada de florestas em Mato Grosso no período analisado pelo ICV está concentrada em apenas 10 municípios – dentre os quais, nove estão na lista de municípios prioritários para ações de prevenção, controle e redução dos desmatamentos e degradação florestal, publicada pela Portaria GM/MMA Nº 834/2023.
Assim como em outros anos, o campeão é Colniza, no Noroeste do estado, com 149,2 km² de novas áreas abertas. A lista se completa com Nova Maringá, Nova Ubiratã, Juara, Marcelândia, Feliz Natal, Aripuanã, União do Sul, Porto dos Gaúchos e Apiacás.
Feliz Natal foi o município que apresentou a maior área de desmatamento autorizado, com 65,5 km², o que representou 66% de toda a área aberta no município.
O maior desmatamento (polígono contíguo) detectado no período ocorreu em Nova Ubiratã, se estendeu por quase 3 mil hectares e foi realizado sem autorização.
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