Por André Garcia
O desmatamento no Cerrado foi responsável pela emissão de mais de 135 milhões de toneladas de CO2 (gás carbônico) entre janeiro de 2023 e julho de 2024, o que corresponde a aproximadamente 1,5 vezes as emissões anuais do setor industrial no Brasil. Isso indica que o desmate, mesmo que autorizado, compromete o bioma mais do que uma das maiores fontes poluidoras da economia.
Os dados foram divulgados nesta quarta-feira, 18/9 pelo Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD), do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e reforçam a urgência de mudanças na forma de produção na região, onde mais de 60% da vegetação remanescente está dentro de áreas privadas que, pelo Código Florestal, podem legalmente desmatar até 80% da vegetação nativa em seus terrenos.
“É um cenário sensível para a proteção do bioma, que expõe a lacuna de políticas de incentivo para evitar o desmatamento, ainda que legal, e demanda também, mais fiscalização para averiguar o desmate ilegal”, avalia Fernanda Ribeiro, pesquisadora do IPAM responsável pela plataforma.
O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, berço de rios, bacias hidrográficas, aquíferos e a savana mais rica e biodiversa do planeta. Sua preservação, no entanto, esbarra em problemas crônicos da política ambiental, que costuma priorizar a proteção de formações florestais em detrimento de outros tipos de ecossistemas. Exemplo disso é a Floresta Amazônica, que reduziu o desmatamento nos últimos anos.
Mudanças climáticas
Vale destacar que o bioma tem um papel fundamental como “sumidouro de carbono”, o que significa que a preservação do Cerrado ajuda a mitigar o aquecimento global, enquanto sua destruição acelera as mudanças climáticas.
“Conservar o Cerrado é essencial para combater a crise climática no Brasil, sendo um bioma chave para segurança hídrica, alimentar e econômica. Para isso, é preciso de incentivos para conservar, enquanto é tempo, os remanescentes de vegetação nativa em áreas privadas para além do código florestal – antes que estas ‘ilhas de Cerrado nativo’ sejam convertidas ou degradadas”, complementa a pesquisadora.
Matopiba lidera
As emissões decorrentes do desmatamento no Cerrado se concentraram na região do Matopiba – fronteira agrícola que compreende partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Ao todo, 80% das emissões vieram da perda de vegetação na região, um total de 108 milhões de toneladas – o equivalente a 50% das emissões totais do setor de transportes, segundo dados da SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa).
Como foi feita a análise
A análise divulgada neste Dia do Cerrado foi desenvolvida pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) com dados de alertas de desmatamento do SAD Cerrado (Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado) de janeiro de 2023 a julho de 2024, considerando apenas os alertas com área superior a 10 hectares.
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