Por André Garcia
Embora o desmatamento na Mata Atlântica tenha caído de 20.075 hectares em 2022 para 14.697 em 2023, uma redução de 27%, a devastação em regiões onde o bioma faz fronteira com o Cerrado e a Caatinga, aumentou 53%, passando de 45.169 hectares para 69.434 hectares.
Os dados, publicados na segunda-feira, 20/5, pelo Atlas da Mata Atlântica, coordenado pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), trazem uma visão parcialmente otimista do cenário, uma vez quea queda no desmate apontam para a urgência de conservação de dois ecossistemas cada dia mais ameaçados.
Segundo o diretor executivo da Fundação SOS Mata Atlântica, Luís Fernando Guedes Pinto a diferença entre os números se dá pelo aumento das derrubadas observadas em regiões conhecidas como “encraves”, destacadamente na Bahia, no Piauí e no Mato Grosso do Sul, que juntos responderam por 56.062 hectares derrubados em 2023, ou 80% do total.
“É importante entender que, no passado distante, o Brasil era coberto por uma imensa floresta tropical. Ela foi se dividindo a partir das glaciações e mudanças no clima, mas, nesse processo, restaram o que podemos chamar de ‘ilhas’ de vegetação típica da Mata Atlântica dentro de outros biomas, os encraves”, esclarece.
A Mata Atlântica, portanto, além de sua grande área contínua entre o Rio Grande do Norte e o Rio Grande do Sul, é composta também por regiões de transição e encraves nos estados do Ceará, Piauí, Goiás, Bahia, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.
“Está evidente que os desafios na Caatinga e, especialmente, no Cerrado são maiores que nunca, assim como a aplicação da Lei da Mata Atlântica nas regiões de transição. Perto do Pampa, na Região Sul, a situação também é preocupante”, afirma Guedes Pinto.
Crise climática
Para ele, enquanto não houver um olhar integrado para todos os biomas, tanto no que se refere a zerar o desmatamento quanto à priorização da restauração florestal, as crises do clima e da biodiversidade continuarão a se intensificar.
“De nada adianta puxar o lençol para a cabeça e descobrir os pés. Menos floresta representa mais desastres naturais, epidemias e desigualdade. Para a agricultura, significa também quebras de safra recorrentes. Qual é o sentido de termos tanta área agrícola se não conseguimos manter a saúde dos ecossistemas que sustentam a produção?”, questiona.
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