Por André Garcia
Pela primeira vez, a área desmatada no Cerrado ultrapassou a da Amazônia, chegando a 1.110.326 hectares em 2023, um crescimento de 68% em relação a 2022. Os dados, divulgados pelo MapBiomas nesta terça-feira, 28/5, apontam para um deslocamento do desmate, que na Floresta Amazônica caiu 62,2%, ficando em 454,3 mil hectares.
De acordo com o Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD), que considera a série histórica do MapBiomas Alerta iniciada há cinco anos, enquanto a Amazônia concentra 25% de todo o desmatamento no Brasil, o Cerrado responde por 61% do total. Para se ter ideia, o bioma perdeu 3.042 hectares de vegetação nativa por dia no ano passado.
“O Cerrado, que já perdeu mais da metade de sua vegetação nativa, passou a ser o protagonista do desmatamento no País, o que torna essa condição ainda mais preocupante”, ressalta a coordenadora do MapBiomas Cerrado e Diretora de Ciência do IPAM, Ane Alencar.
Essa mudança se refletiu também no tipo de vegetação suprimida. Em 2023, pela primeira vez, houve o predomínio de desmatamento em formações savânicas (54,8%) seguido de formações florestais (38,5%) que predominaram nos quatro primeiros anos do levantamento.
“Os dados apontam a primeira queda do desmatamento no Brasil desde 2019. Por outro lado, a cara do desmatamento está mudando no Brasil, se concentrando nos biomas onde predominam formações savânicas e campestres e reduzindo nas formações florestais”, destaca o coordenador do MapBiomas, Tasso Azevedo.
Alerta no Matopiba
Juntos, quatro estados do Cerrado – Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, que formam a região conhecida como Matopiba – responderam por quase metade (47%) do desmatamento no País no ano passado. Foram 858.952 hectares, alta de de 59% em relação a 2022. Número ultrapassa a área desmatada nna Amazônia.
Segundo o RAD, três em cada quatro hectares desmatados no Cerrado em 2023 (74%) foram no Matopiba, que abriga 10 municípios com maior área desmatada no bioma.
Redução na Amazônia
A situação na Amazônia representa um ponto de inflexão no desmate, que teve queda de 11,6% no Brasil: no último ano, 1.829.597 hectares de vegetação nativa foram suprimidos, enquanto em 2022, o total foi de 2.069.695 hectares. Essa redução se deu mesmo com um aumento de 8,7% no número de alertas, na comparação com 2022.
No bioma, houve redução em todos os estados, exceto no Amapá, onde constatou-se crescimento de 27% no desmate. Na região de Amacro, que reúne os estados do Amazonas, Acre e Rondônia – e que já foi considerada a nova frente de desmatamento do Brasil – houve queda de 74% na área desmatada, que ficou em 102.956 hectares.
Dos 559 municípios do bioma Amazônia, 436 tiveram algum desmatamento detectado em 2023, ou 78% do total. Em todos os 10 municípios que mais desmataram na Amazônia houve queda.
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