Por André Garcia
Em todo o Brasil a devastação do Cerrado em 2022 foi quase 20% maior que em 2021, passando de 691.296 para 815.532 hectares. Para se ter ideia, a área de cobertura do bioma perdida só em Mato Grosso é maior que a soma das áreas de Curitiba e Belo Horizonte, chegando a 74.899 hectares.
Um fato importante é que, deste total, 68.2% ou 51.116 hectares, estavam localizados em propriedades privadas, o que faz com o que Estado acompanhe uma tendência nacional – no país, a porcentagem de devastação do bioma em áreas com Cadastro Ambiental Rural (CAR) privado é de quase 80%.
Considerando os números estaduais, os demais registros de desmatamento se dividem, em menor escala, nas áreas pertencentes à Terras Indígenas (9.756 ha), assentamentos (6.906 ha) e vazios fundiários (6.822 há). Os dados são do Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (Sad Cerrado).
O Estado ocupa ainda a sexta colocação no ranking que considera a área de alertas de desmatamento no bioma, lista encabeçada por Maranhão (227.822 ha), Tocantins (171.348,75 ha) e Bahia (84052 ha). A sexta posição se repete no critério “número de alertas”, que totalizam 7.369.
Para a pesquisadora no IPAM e coordenadora científica do MapBiomas, Julia Shimbo, para mudar a situação é necessário que haja uma ação conjunta entre setores privado, financeiro, e governos Estadual e Federal.
“Além de intensificar a fiscalização, é crucial que planos importantes sejam retomados, como o PPCerrado [Plano de ação para prevenção e controle do desmatamento e das queimadas no Cerrado. O governo atual sinalizou que irá retomar essas ações, o que pode significar uma oportunidade,” diz.
Municípios
Desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) em parceria com a rede MapBiomas e com o Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (LAPIG) da Universidade Federal de Goiás (UFG), o SAD também elenca os municípios mato-grossenses com os as maiores perdas da cobertura.
Considerando a área de desmatamento, Comodoro, Paranatinga e Campos de Júlio lideram a lista, com a perda de 5.346, 4.839 e 4.308 hectares respectivamente. Tratando-se do número de alertas o quadro muda para Paranatinga, Rosário Oeste e Nova Xavantina, com 483, 409 e 337, respectivamente.
Alerta
De acordo com o IPAM, em todo o país as formações savânicas, entre os diferentes tipos de vegetação do Cerrado, foram as mais afetadas no último ano. Em Mato Grosso essa vegetação concentra 74% da área desmatada, seguida pelo campo, com 18,2% e pela floresta, com 7,4%.
O instituto alerta que, caso as propostas de legislações internacionais antidesmatamento considerem como áreas de proteção apenas aquelas caracterizadas como florestas, segundo definição Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura(FAO), os biomas brasileiros que possuem outros tipos de vegetação nativa estarão descobertos.
Isso permitirá que as commodities ocupem essas áreas sem nenhuma repreensão do mercado, conforme aponta a diretora de Ciência do IPAM e coordenadora do MapBiomas Fogo e da equipe do Cerrado no MapBiomas, Ane Alencar.
“Grande parte da soja brasileira é produzida no Cerrado, por exemplo. Ao utilizar a caracterização de floresta da FAO, mais de 74% da área de vegetação nativa do bioma estaria desprotegida pela legislação europeia, justamente onde ocorre grande parte do desmatamento: mais de 85% do total”, afirma.
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