Ás vésperas da COP-26, a Unesco publica nesta quinta-feira (28) estudo com um dado alarmante: dez florestas consideradas patrimônio mundial já emitem mais carbono do que absorvem, “devido à pressão da atividade humana e das mudanças climáticas”. Esta é a primeira avaliação científica a medir quantidades de gases de efeito estufa emitidos e absorvidos por florestas em sítios tombados pela entidade.
“Todas as florestas devem ser ativos na luta contra as mudanças climáticas. A descoberta de nosso relatório de que mesmo algumas das florestas mais icônicas e mais bem protegidas, como as encontradas em sítios do Patrimônio Mundial, podem realmente contribuir para a mudança climática é alarmante e traz à tona evidências da gravidade dessa emergência climática”, afirmou Tales Carvalho Resende, Centro do Patrimônio Mundial da UNESCO, co-autor do relatório.
Patrimônios brasileiros não constam da lista da Unesco, em que figuram parques como Grand Canyon e o de Yosemite, nos Estados Unidos, e áreas em Honduras, Indonésia, África do Sul, Malásia, Rússia, Mongólia, Austrália e na ilha caribenha Dominica.
O estudo da Unesco revelou também dados animadores, como o papel vital dessas florestas na mitigação das mudanças climáticas. Segundo a avaliação, 257 patrimônios mundiais pesquisados absorveram o equivalente a aproximadamente 190 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera a cada ano, comparável a quase metade das emissões anuais de CO2 do Reino Unido de combustíveis fósseis.
“Agora temos o quadro mais detalhado até o momento do papel vital que as florestas em sítios do Patrimônio Mundial desempenham na mitigação das mudanças climáticas”, afirma Resende.
Para chegar a esses resultados, pesquisadores da Unesco, World Resources Institute (WRI) e da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) usaram uma combinação de dados de satélite com informações de monitoramento no nível do local. E assim foram capazes de estimar o carbono bruto e líquido absorvido e emitido pela Unesco Mundial Florestas tombadas entre 2001 e 2020 e determinar as causas de algumas emissões.
“Esta análise de locais icônicos do Patrimônio Mundial mostra que a combinação de dados de satélite com informações locais pode melhorar a tomada de decisão local e fortalecer a responsabilidade, ajudando assim as florestas, o clima e as pessoas”, disse David Gibbs, WRI Research Associate e co-autor do relatório
O relatório “pede uma proteção forte e sustentada dos locais do Patrimônio Mundial da UNESCO e de suas paisagens circundantes para garantir que suas florestas possam continuar a atuar como fortes sumidouros e estoques de carbono para as gerações futuras”. Para conseguir isso, a entidade recomenda uma resposta rápida aos eventos relacionados às mudanças climáticas, bem como fortalecer gestões que primam pela preservação e conservação do meio ambiente.
“Proteger os sítios do Patrimônio Mundial da crescente fragmentação e crescentes ameaças será fundamental para nossa capacidade coletiva de lidar com as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade”, afirmou Tim Badman, diretor do Programa de Patrimônio Mundial da IUCN.