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Dia da Água: represamento cresce 54% e pode piorar seca no Brasil

Dia da Água: represamento cresce 54% e pode piorar seca no BrasilFoto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

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Por André Garcia

Ao passo em que perdeu 2,4 milhões de hectares de água natural ao longo das últimas quatro décadas, o Brasil aumentou a quantidade de água concentrada em reservatórios e outras estruturas artificiais: entre 1985 e 2024 a superfície de água represada 1,5 milhão de hectares, ou 54% segundo o MapBiomas.

Divulgados na sexta-feira, 21/3, às vésperas do Dia Mundial da Água, os dados acendem um alerta, já que o avanço da água represada representa uma ameaça tanto para o meio ambiente quanto para atividades econômicas dependentes de ecossistemas equilibrados, como agricultura sustentável, turismo e a pesca.

Conforme o levantamento, Cerrado e Mata Atlântica concentram a maior parte dessa água represada, impactando regiões estratégicas para o agronegócio e agravando a fragilidade de biomas como o Pantanal e a Amazônia, que seguem com quedas na superfície hídrica natural.

As perdas ocorreram principalmente em rios e lagos, que ainda representam 77% da superfície hídrica do Brasil. Só em 2023, o MapBiomas já havia apontado uma queda acumulada de 12,5% em relação a 1985. Mesmo com o crescimento das águas de reservatórios, a redução da água natural continua avançando.

Cerrado sob pressão da água represada

O Cerrado fechou 2024 com 1,63 milhão de hectares de superfície de água, 11% acima da média histórica. Porém, a maior parte desse volume está concentrada em ambientes artificiais, como hidrelétricas e grandes reservatórios, que já representam 60% da superfície hídrica do bioma.

De acordo com o pesquisador Joaquim Pereira, a redução da superfície de água natural, combinada ao aumento da água represada, compromete ainda mais os ciclos hidrológicos da região, além de contribuir para a fragilização de biomas vizinhos, como o Pantanal.

“A construção de grandes reservatórios para geração de energia e a expansão da agricultura irrigada foram os principais motores de transformação na superfície de água no Cerrado. Regiões como a bacia do Alto Paraguai, onde estão as nascentes do Pantanal, foram criticamente afetadas, assim como o oeste da Bahia, onde se observou redução generalizada na superfície de água”, pontuou.

Regiões mais povoadas concentram reservatórios

A maior parte dessa superfície represada está em biomas com alta densidade populacional. A Mata Atlântica concentra 33% da água artificial do País (1,33 milhão de hectares), seguida pelo Cerrado, com 24% (984 mil hectares). Pequenos reservatórios estão mais presentes na Caatinga (298 mil hectares – 30%) e no Pampa (197 mil hectares – 20%).

“O aumento da superfície de água no Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica deriva do crescimento da água armazenada em hidrelétricas e outros tipos de reservatórios. No caso dos biomas com maior prevalência de água natural, como a Amazônia e Pantanal, houve redução hídrica”, explica Schirmbeck.

A Amazônia e o Pantanal, onde ainda predomina a água natural, registraram as maiores perdas em bacias hidrográficas em 2024. Na bacia do Paraguai foram 571 mil hectares a menos e na bacia Amazônica, 405 mil hectares. No total, 25% das bacias hidrográficas do país ficaram abaixo da média histórica.

 

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