Por André Garcia
Neste 21/3, Dia Internacional das Florestas, os alertas sobre a urgência de frear o desmatamento reforçam a necessidade de novos modelos de desenvolvimento. No Brasil, a ainda pouco conhecida bioeconomia já se mostra capaz de transformar riquezas naturais em negócios rentáveis, indicando que proteger os biomas e evitar um colapso climático passa por inovação, tecnologia e geração de oportunidades.
Foi o que explicou ao Gigante 163 o cientista Carlos Nobre ao destacar que, embora o País detenha a maior biodiversidade do planeta, ainda explora apenas uma pequena fração desse potencial.
“Precisamos desenvolver uma economia baseada na sociobiodiversidade. O Brasil tem a maior biodiversidade do planeta, com cerca de 15 a 18% de todas as espécies que são conhecidas de plantas e animais do mundo. Mas os produtos da nossa biodiversidade representam de 3 a 4% do PIB. Não são nada.”
Para mudar esse cenário, ele defende que o Brasil tem condições de liderar uma nova economia sustentável, a partir da valorização de produtos nativos como alimentos, medicamentos e insumos da biodiversidade, que gerem valor agregado e beneficiem as populações locais.
“Nós não valorizamos a bioeconomia de floresta em pé e ela é fundamental porque quando nós investirmos, nós vamos zerar todos os desmatamentos e vamos restaurar muito os biomas para produzirmos mais produtos a partir da nossa riquíssima biodiversidade”, pontua.
Perspectivas para o Brasil
A expectativa é que o Brasil amplie a participação de produtos da sociobiodiversidade na economia e se insira de forma mais competitiva no mercado global de bioeconomia, que, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), pode movimentar até US$ 7,7 trilhões até 2030.
O País, no entanto, ainda precisa estruturar cadeias produtivas robustas, com tecnologia e inovação, para que a bioeconomia possa, de fato, gerar riqueza, empregos e melhorar a qualidade de vida na região amazônica e em outras áreas de floresta.
“Tem que haver muita agregação de valor, uma industrialização desses produtos para melhorarmos a qualidade de vida das pessoas e zerarmos as emissões até 2040. Zera os desmatamentos, cria megaprojetos de restauração florestal e também desenvolve um país que vai ter uma sociobioeconomia muito importante”, reforça Nobre.
De olho nesse potencial, o Governo Federal está elaborando o Plano Nacional de Desenvolvimento da Bioeconomia (PNDBio), que tem como objetivo criar políticas públicas para fortalecer cadeias produtivas sustentáveis, com foco em produtos florestais não madeireiros e na agregação de valor a esses produtos.
Receita para a prosperidade
O agronegócio pode ser protagonista nessa transformação, já que possui instrumentos para ampliar a produção de bioinsumos e biocombustíveis, a extração de óleos vegetais e o desenvolvimento de sistemas agroflorestais. É o caso da startup Belterra, que aposta na recuperação de áreas degradadas para cultivar açaí, cupuaçu e cacau, por exemplo.
Com resultados que superam em até vinte vezes a rentabilidade de sistemas convencionais de pecuária extensiva, a empresa atua em Mato Grosso e outros cinco estados e já recebeu investimentos de R$ 33 milhões da Cargill para fortalecer a produção e restaurar 1.000 hectares de áreas degradadas.
“Não estamos falando de monocultura de cacau. Haverá um conjunto de outras espécies, como mandioca, banana e milho. Isso tudo, pensando tanto na comercialização e geração de renda, quanto no papel que estas plantas exercem na recuperação do solo”, afirma o CEO da Belterra, Valmir Ortega.
Oportunidades
Investimentos em iniciativas assim devem se multiplicar. No início deste ano, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o BID assinaram um acordo para estruturar projetos de parcerias entre estados e o setor privado, com cerca de US$ 33 milhões já disponibilizados para ações de bioeconomia.
Outro exemplo é o Fundo de Impacto para Projetos Socioambientais de Bioeconomia e Soluções Baseadas na Natureza, criado pela Petrobras em parceria com a gestora especializada em finanças sustentáveis Régia Capital. O fundo já conta com R$ 50 milhões destinados pela estatal para apoiar projetos socioambientais.
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