O calor intenso experimentado por boa parte do Brasil nos últimos dias se tornou bem mais frequente nas últimas três décadas, evidenciando na prática os efeitos das mudanças climáticas. O que antes era uma anormalidade meteorológica está se tornando algo corriqueiro, inclusive em regiões do país onde o clima costumava ser mais ameno.
A conclusão é de um novo estudo divulgado pelo INPE nesta segunda-feira, 13/11, que traz um levantamento sobre a ocorrência de ondas de calor no território brasileiro dos anos 1960 até agora. A análise foi feita para subsidiar a atualização do Plano Nacional de Adaptação, elaborado em 2016.
Entre 1961 e 1990, o número de dias do ano sob ondas de calor não ultrapassava sete, na média. No período de 1991 a 2000, esse número subiu para 20 dias; na década seguinte, dobrou para 40. Mais recentemente, entre 2011 e 2020, o Brasil experimentou em média 52 dias do ano com temperaturas mais altas.
O levantamento também mostrou que houve um aumento gradual das anomalias de ondas de calor em praticamente todo o território brasileiro – apenas a região Sul, a porção sul do estado de São Paulo e o sul do Mato Grosso do Sul “escaparam”. O calor se tornou mais intenso e frequente não apenas no Nordeste, região mais afetada, mas também no Norte.
Entre 1991 e 2000, período de referência do estudo, as anomalias de temperatura máxima não passavam de cerca de 1,5ºC. No entanto, na última década, elas chegaram a atingir 3ºC em alguns locais, especialmente no Nordeste e proximidades. No período de referência, a média de temperatura máxima nos estados nordestinos era de 30,7ºC; esse número subiu para 31,2ºC entre 1991 e 2000, 31,6ºC entre 2001 e 2010, e finalmente 32,2ºC entre 2011 e 2020.
“Vemos uma tendência de aumento das temperaturas máximas com sinal bastante expressivo. Entre 2011 e 2020, todas as regiões do Brasil registraram um aquecimento superior a 1,5ºC, ou seja, superior ao que requer o Acordo de Paris, lembrou o pesquisador do INPE Lincoln Alves, citado pela Agência Pública.