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Efeito em cadeia: seca agrava queimadas na Amazônia, Cerrado e Pantanal

Efeito em cadeia: seca agrava queimadas na Amazônia, Cerrado e PantanalOs três biomas mantém uma relação simbiótica. Foto: Joedson Alves/Agência Brasil

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Por André Garcia

Com 58% do seu território afetado pela seca e cerca de 1/3 em condição de seca severa, o Brasil sofre com a explosão das queimadas, já tendo registrado 184.363 focos de calor neste ano. A situação, intensificada pela mudança do clima, se agrava principalmente na Amazônia, no Pantanal e no Cerrado, biomas codependentes.

De acordo com boletim divulgado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) na terça-feira, 18/9, a Bacia Amazônica enfrenta a pior estiagem em 45 anos e concentra 92.064 focos de calor. De 1º de janeiro a 15 de setembro foram queimados 9.686.750 de hectares na região, o que equivale a 2,3% do bioma.

No mesmo período, a área consumida pelas chamas no Pantanal foi de 1.930.975 hectares, ou 12,79% de seu território, que concentrou 22.115 focos ao longo deste ano. Já no Cerrado, 60.056 focos de calor resultaram na queima de 10.793.125 hectares, cerca de 6% do bioma.

Os números são preocupantes porque os três biomas vizinhos mantém uma relação simbiótica da qual depende a manutenção do clima, do ciclo dos rios e da segurança econômica do Brasil, conforme explicado pelo pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Carlos Nobre, em entrevista públicada pelo Gigante 163 no Dia Mundial da Água.

De acordo com Nobre, cerca de metade da chuva na Amazônia é reciclada na própria floresta, antes de retornar ao oceano. Isso faz com que os rios voadores garantam as chuvas no Centro-Oeste e Sul do Brasil, permitindo a manutenção de rios e a irrigação de campos e plantações.

“Uma dinâmica muito complexa e muito perigosa é a degradação da Amazônia, que está ficando muito próxima de um ponto de não retorno. Isso também já começou a afetar o regime de chuva do Cerrado, principalmente no centro sul, que é a área mais desmatada do bioma.  Esse é um aspecto diretamente relacionado com o desmatamento.”

A emergência climática elevou em até 20 vezes a probabilidade das condições que intensificaram os incêndios na Amazônia Ocidental de março de 2023 a fevereiro de 2024. No Pantanal, o impacto foi de cerca de 40% nos incêndios florestais registrados em junho. Ou seja, o que está acontecendo agora é um efeito em cadeia.

Sem trégua

Neste cenário, a propagação das chamas exige um número cada vez maior de bombeiros , brigadistas e profissionais da segurança.  Hoje, quase 3 mil profissionais do Governo Federal, incluindo Ibama, ICMBio, Forças Armadas e Forças de Segurança Pública, atuam nestas regiões.

Eles estão distribuídos principalmente entre os cinco estados com mais focos de calor: Mato Grosso (40.546), Pará (31.917), Amazonas (19.478), Tocantins (13.169) e Mato Grosso do Sul (11.754).

Segundo o MMA, desde o início de 2024 estes focos evoluíram para 820 incêndios nos três biomas, dos quais 402 foram extintos e 184 são considerados como controlados. Isso significa que o fogo está cercado por barreiras naturais ou artificiais, mas ainda precisa ser extinto para não ultrapassar estas linhas e provocar novos incêndios.

Vale destacar que a estratégia de uso do fogo para renovação de pastagem ou qualquer outra finalidade está proibida até o fim do ano em território nacional. Quem descumprir a lei poderá ser punido com multa e apreensão de bens, além de prisão de dois a quatro anos.

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