Por Rodrigo Malafaia
A água, um dos bens naturais mais fundamentais para o nosso agronegócio, soou seu alarme. 20% das 11.216 microbacias da Amazônia sofrem de alto impacto humano, segundo o Relatório de Resultados do Índice de Impacto nas Águas da Amazônia (IIAA), produzido pela Ambiental Media em parceria com o Instituto Serrapilheira, lançado na quinta feira (5/5).
Apenas em Estado de Mato Grosso, a Bacia do Tapajós ocupa duas vezes o top 5 dentre as mais afetadas: pelo impacto das quatro instalações da Hidrelétrica Braço Norte, em Guarantã do Norte, ocupando a segunda posição de bacias mais degradadas; e pela Hidrelétrica Paranorte, na região de Juara, que ocupa a quarta posição no estudo.
A pesquisa se baseou em nove fatores de pressão para o cálculo dos impactos (de baixo a extremo): agricultura e pecuária, área urbanizada, garimpo ilegal, mineração industrial, hidrelétricas, cruzamento de estrada, hidrovia, degradação florestal e diferença de precipitação.
O relatório, cujo conteúdo está está no site Aquazônia: A Floresta-Água, da Ambiental Media, analisou a redução de microbacias hidrográficas no bioma que mais comportam água no mundo. E, pela análise, os ecossistemas mais afetados estão presentes na fronteira sul do bioma, nos Estados de Rondônia, Mato Grosso e Pará por causa, especialmente, dos avanços de hidrelétricas e da mineração.
O estudo aponta que, dentre “todas as microbacias categorizadas como tendo impacto alto, muito alto ou extremo, 50% estão afetadas por hidrelétricas, totalizando 1.146 microbacias na Amazônia.” Dentre as afetadas por hidrelétricas, 478 delas sofrem também com a mineração e garimpo (21%), por causa dos impactos econômicos decorrentes das mesmas.
Como fica a pesca?
Ao contrário do que se pensa, as pequenas centrais hidrelétricas (PCH) podem causar um impacto maior do que as grandes na vida e no cotidiano de comunidades, principalmente das que vivem da pesca. Considerando que 80% das 275 hidrelétricas presentes nos rios amazônicos são de pequeno porte, pois demandam menos regulamentação, correntes de água desses rios e afluentes sofrem mudanças contínuas, afetando a qualidade e a biodiversidade das águas, aponta o levantamento.
Segundo o mesmo estudo, apesar de a usina de Belo Monte, no Pará, Estado vizinho, ser considerada um desastre ambiental, ela tem um impacto direto muito menor por possuir turbinas no fundo do rio e entregar de volta praticamente a mesma quantidade de água que recebe, permitindo uma maior fluidez.
Impacto por infraestruturas
As ameaças a duas das principais bacias de Mato Grosso, do rio Tapajós e do rio Tocantins, vêm de empreendimentos como barragens, garimpo, desmatamento e hidrelétricas de baixo retorno. Responsável por conectar o Cerrado à Amazônia, a Bacia do Tapajós possui 7% da Bacia Amazônica e sua conservação é essencial para a preservação de ambos os biomas.
Chamado de “caixa d’água” do Brasil, o bioma Cerrado possui as três principais bacias do País: a do Rio Prata, Rio São Francisco e Rios Tocantins e Tapajós (Bacia Amazônica). Os rios da Bacia Amazônica estão entre os mais impactados e sofrem altos riscos de perder sua qualidade por contaminação, perda de biodiversidade, desvio e assoreamento, além de possíveis intempéries climáticas.
Com crescentes desmatamentos próximos às hidrelétricas, os rios têm menos possibilidades de regeneração, afetando o seu regime de chuvas local. A perda de água devido à degradação no Cerrado e na Amazônia está intimamente ligada às secas no Mato Grosso, afetando já plantações e perdas de safra.
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