Por André Garcia
As concentrações dos três principais gases de efeito estufa – dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, que atingiram seus recordes em 2022, mantiveram aumento contínuo em 2023. Os níveis de CO2 estão 50% mais altos do que na era pré-industrial, o que significa que as temperaturas continuarão a aumentar por muitos anos.
É o que aponta relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), que recentemente revelou que, neste cenário de ameaça, um lampejo de esperança surge com a geração de energia renovável. As adições do setor tiveram alta de quase 50% em relação a 2022, totalizando 510 gigawatts (GW) no último ano.
Esta, que é a taxa mais alta observada nas últimas duas décadas, coloca a energia renovável na vanguarda da ação climática, reforçando seu potencial de alcançar metas de descarbonização principalmente a partir do aproveitamento da radiação solar, do vento e do ciclo da água.
Considerando o contexto de mudanças climáticas que exige uma transição energética cada vez mais urgente em todo o globo, o Brasil pode sair na liderança deste mercado, já que sua matriz energética é mais renovável que a das maiores economias mundiais, o que representa uma vantagem comparativa.
Hoje o País se destaca com mais de 80% da geração de energia elétrica oriunda de fontes renováveis, contra 29% na média dos demais países do G20. Mas outros mercados podem florescer, como o de hidrogênio de baixo carbono, na substituição de combustíveis fósseis por biomassa e o de biocombustíveis, dentre outros.
Transição à vista
Na última semana, a Câmara dos Deputados aprovou a proposta que institui o Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten) para incentivar projetos de desenvolvimento sustentável com recursos de créditos de empresas perante a União. O texto agora será enviado ao Senado.
A proposta considera como de desenvolvimento sustentável projetos de obras de infraestrutura, expansão ou implantação de parques de produção energética de matriz sustentável, pesquisa tecnológica ou de desenvolvimento de inovação tecnológica que proporcionem benefícios socioambientais ou mitiguem impactos ao meio ambiente.
Assim, as empresas que ingressarem no programa também poderão fazer uma negociação de suas dívidas de tributos federais por meio da transação, sistemática criada para conceder descontos e parcelamento de créditos de difícil recuperação.
Investimentos
Hoje, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), é o maior financiador de energias renováveis do mundo, com créditos que somam cerca de US$ 35 bilhões no período de 2004 a 2022. Suas operações incluem infraestrutura de geração de energia a partir de fontes renováveis e termelétricas a gás natural no País (veja condições aqui).
Entre as estratégias para a transição brasileira, a instituição cita o hidrogênio de baixo carbono, especialmente, a matriz energética brasileira garante uma posição privilegiada, viabilizando a produção competitiva a partir de diversas fontes, como eólica ou solar (hidrogênio verde) e gás natural (hidrogênio azul e o chamado hidrogênio turquesa).
Powershoring
Segundo o BNDES, o desenvolvimento desses mercados pode atrair investimentos para cadeias produtivas estratégicas, a exemplo de fertilizantes, siderurgia e química verdes, por meio do chamado powershoring. O termo denomina o deslocamento da produção industrial para países que contam com energia renovável abundante e barata.
Neste contexto, toda a América Latina reúne condições para a economia do powershoring. Afinal, a região é geograficamente próxima da América do Norte e da Europa e vários países já têm matrizes energéticas limpas ou majoritariamente limpas, enquanto outros seguem a passos largos naquela mesma toada.
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