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Especialista explica riscos do El Niño para o agronegócio

Especialista explica riscos do El Niño para o agronegócioAquecimento das águas do Pacífico influência chuvas no Brasil. Foto:Divulgação/Nasa

Fazenda com SAF garantiu produtividade mesmo na seca
Incêndios podem ter afetado mais de 11 mi de pessoas no Brasil
Chuvas causaram prejuízo de mais de R$ 55,5 bilhões entre 2017 e 2022

Por André Garcia

O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) atualizou a cartilha Programas de Apoio ao Seguro Rural, investidores de todo o mundo já se preparam para inflação de até 50% no preço dos alimentos e cientistas alertam para o potencial de devastação da Amazônia e do Cerrado. Tudo isso por conta do El Niño.

Produção agropecuária sofrerá com mudanças. Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil)

Marcado pelo aquecimento do Oceano Pacífico, ele causa anomalias climáticas em toda a região tropical do planeta, influenciando principalmente a Amazônia, onde inverte a circulação do ar e inibe a formação de chuvas, refletindo nos índices pluviométricos do Brasil. Esta é a primeira dica sobre o que o agro tem a ver com o fenômeno.

“Uma seca severa afeta o desenvolvimento da planta em todas as etapas, desde a germinação até o ponto final de colheita, resultando na quebra de safra”, diz o professor-doutor de Climatologia Rodrigo Marques, do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

Mas o risco não é apenas este. Em entrevista ao Gigante 163, ele explicou melhor esta relação e destacou que os prejuízos podem ser potencializados no Cerrado, bioma que concentra a maior produção de grãos e de gado do País. O que se agrava considerando que na região o desmatamento subiu 21,7% e foram registrados 4472 focos de queimada neste ano.

“Quanto maior a área desmatada, menor a umidade no ar e menor a quantidade de umidade que desce para outros estados, diminuindo as chuvas. O Centro Oeste contribui bastante para o desmatamento e queimadas, ou seja, acabamos colhendo os efeitos dos danos que causamos à natureza”, afirma o professor.

Dito isso, consultores de investimentos como os da gestora britânica Schroders, já levam em conta que ao aumentar a ocorrência de incêndios florestais, inundações e deslizamentos, o El Niño pode prejudicar a geração de energia. A agropecuária então, precisaria lidar com custos de produção muito mais altos.

Correlação entre o PIB do Brasil com ONI. Crédito: Schroders

O contexto oferece ainda a ameaça de insuficiência no abastecimento público, para geração de energia ou para produção agropecuária, que depende tanto da água das chuvas, quanto da retirada de córregos, rios e lençóis freáticos para a irrigação.

“Uma menor disponibilidade de água também pode fazer com que, muito em breve, tenhamos uma concorrência para o abastecimento das cidades”, alerta o professor.

As previsões são endossadas pelo Índice Niño Oceânico (ONI), que mede as mudanças na temperatura da água no Pacífico. De acordo com os dados, as oscilações de temperatura registradas anteriormente estão relacionadas ao crescimento do PIB brasileiro, composto por 5% de exportações líquidas de alimentos.

Extremos climáticos

Outra característica do fenômeno são os extremos climáticos, que já causavam apreensão entre os produtores rurais mesmo antes do anúncio oficial da Organização Meteorológica Mundial (OMM) sobre o início do fenômeno, em julho.

No mês de junho, temperaturas acima da média em boa parte do Centro-Oeste e todo o Sul do Brasil podem ter prejudicado a segunda safra de milho. Na mesma época, uma onda de frio intenso e repentino matou cerca de 1500 cabeças gado em Mato Grosso do Sul, causando prejuízo de R$ 5 milhões e trazendo uma amostra do que pode ser esperado.

Como já mostramos, estes extremos causaram prejuízos de R$ 287 bilhões ao agro nacional entre 2013 e 2022, segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM).

Diante disso, as estratégias para redução de danos devem se tornar permanentes, uma vez que tais ocorrências serão mais frequentes a partir de agora.

“Este é o ‘novo normal’, como tem sido colocado pela comunidade científica. Isso mostra que precisamos entender o novo ritmo climático e realizar ações que permitam que estas atividades tenham continuidade. É muito mais fácil parar de queimar e desmatar do que mudar a circulação atmosférica”, conclui Rodrigo.

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