O Brasil tem atualmente 476 espécies exóticas invasoras (EEI) em seu território. Esse número inclui o mosquito Aedes aegypti, causador da dengue, e o pinheiro Pinus elliottii, além de animais como tilápia, javali, sagui e búfalo, e plantas como mamona e amendoeira-da-praia. E cálculos mostram que as EEI causam prejuízo de US$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões anuais à economia do país por danos à biodiversidade, à agricultura e à saúde pública.
Os dados são do “Relatório Temático sobre Espécies Exóticas Invasoras, Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos”, da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) divulgado na sexta-feira, 1/3. Segundo o documento, há no país 268 animais e 208 plantas e algas invasores. A maioria é nativa da África, da Europa e do Sudeste asiático, e entra no Brasil principalmente devido ao comércio ilegal, explica o Correio Braziliense. Todos os biomas são afetados.
O problema é que essa cifra, embora impressionante, é bastante conservadora. Como destaca Daniela Chiaretti no Valor, ele se refere a apenas 16 espécies invasoras. Assim, entre 1984 e 2019, o prejuízo mínimo estimado em razão de impactos negativos causados por essas 16 EEI oscilou entre US$ 77 bilhões a US$ 105 bilhões.
“Este é um número muito subestimado. O que assustou a gente é que, mesmo tendo poucas publicações sobre os impactos negativos das invasões biológicas no Brasil, os números que nós temos já mostram um prejuízo enorme”, explica à Folha Mário Luis Orsi, um dos coordenadores do relatório e professor de pós-graduação em ciências biológicas da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
A introdução de espécies exóticas acontece em várias frentes. A entrada de plantas ornamentais sem regulamentação, por exemplo. Navios trazem espécies de peixes e moluscos ao despejar a água de lastro. Pessoas que entram em florestas com micro-organismos de outras origens nos sapatos. Áreas urbanas são vulneráveis pela grande circulação de pessoas, commodities e mercadorias em portos e aeroportos.
Das cinco maiores causas de perdas de biodiversidade – destruição de habitat, mudanças climáticas, poluição, superexploração de recursos naturais e espécies invasoras –, a mais negligenciada na gestão pública brasileira são as invasões biológicas. Essa é a avaliação de Michele Dechoum, professora adjunta do Departamento de Ecologia e Zoologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e uma das líderes do projeto.
“Isso acontece porque é um tema polêmico que envolve conflitos de interesse de diferentes setores econômicos, visto que algumas destas espécies oferecem benefícios pontuais a determinados segmentos. E também pela deficiência de conhecimento técnico, tanto na perspectiva conceitual quanto das medidas de gestão e manejo necessárias. A pior coisa a fazer é não agir”, explicou.
Os pesquisadores sugerem a precaução antes do problema ocorrer, controle de risco e gestão e governança.
R7, Agência Brasil e Estadão também repercutiram o relatório sobre o impacto econômico de espécies invasoras no Brasil.