Um estudo publicado recententemente na revista Trends in Ecology & Evolution apontou como microrganismos do solo – bactérias e fungos, responsáveis em grande parte pelos processos ecológicos do bioma – têm sido alterados pelas mudanças de uso da terra na Amazônia e isso traz impactos sérios para o meio ambiente. A pesquisa foi realizada em parceria pelas universidades Stanford, Califórnia e Oregon, nos Estados Unidos, e Oxford, no Reino Unido. As informações são do site Um Só Planeta.
“Nosso objetivo era entender o que se sabia até o momento a respeito de como esses microrganismos respondem aos processos de desmatamento, mudança climáticas e de uso do solo na Amazônia”, disse Andressa Monteiro Venturini, da Universidade de Stanford, coordenadora da pesquisa.
O trabalho foi realizado entre 2022 e 2023, embora Venturini pesquise os impactos do desmatamento na Amazônia sobre os microrganismos do solo desde 2014, época de seu doutorado. O objetivo foi mostrar essas mudanças a partir de uma perspectiva funcional, ou seja, quais papéis os microrganismos desempenham no ambiente e que estão sendo alterados por esses processos.
“Além disso, nós buscamos compreender quais as lacunas e desafios que ainda existem na área. Ao falar sobre isso, não consideramos apenas os aspectos científicos, mas também o contexto social, educacional e político, como por exemplo, formação de recursos humanos na área e aplicação dos resultados em políticas públicas”, revelou Venturini.
Segundo ela, o principal estudo de caso foi o ciclo de metano, uma vez que diversos artigos sobre o tema foram publicados nos últimos anos.
“Trata-se do segundo gás mais importante de efeito estufa e o seu ciclo no solo é controlado por dois grupos de microrganismos, os que o produzem (metanogênicos) e os que o consomem (metanotróficos).”
Os pesquisadores concluíram que com essas mudanças, os solos que costumam ser sumidouros de metano (ou seja, consumir metano) podem passar a emitir esse gás, especialmente sob determinadas condições ambientais, como elevada umidade.
“Dentro desse contexto, nós levantamos uma relevante discussão sobre os desafios e futuro dessa área do conhecimento, como a importância de se incluir esses resultados em políticas públicas”, afirmou.
Uma das autoras, Júlia Brandão Gontijo, da Universidade da Califórnia (EUA), ressaltou que vários trabalhos desenvolvidos na região têm reportado um aumento significativo na emissão de gases de efeito estufa pelo solo em áreas convertidas para pastagens.
“No entanto, apesar de desempenharem um papel fundamental em diversos processos biogeoquímicos, os microrganismos do solo têm sido lamentavelmente negligenciados em iniciativas de conservação e gestão”, concluiu.