Por André Garcia
Os Estados Unidos vão investir US$ 4 milhões em pesquisas voltadas à redução da dependência brasileira de fertilizantes estrangeiros. O anúncio foi feito pelo presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Celso Moretti, durante evento que comemorou os 50 anos da instituição, na segunda-feira (24).
Segundo Moretti, o acordo que garantirá o financiamento norte-americano será assinado nesta quarta-feira, 26/4. O documento prevê que os recursos sejam disponibilizados pela Universidade da Flórida e considera a dificuldade na obtenção de fertilizantes desde o ano passado, com o início da guerra entre Rússia e Ucrânia.
“Ano passado tivemos uma crise global de acesso a fertilizantes, o que é algo muito preocupante. Então adotamos uma série de ações, dentre as quais está esse acordo”, afirmou.
Na ocasião também chamou a atenção para a produção de alimentos a partir da aplicação de bioinsumos em substituição aos agrotóxicos, destacando que esse tipos de fertilizantes também são importantes para a autonomia do país em relação às importações de produtos químicos.
“Ao longo dos últimos 10 anos, a Embrapa investiu fortemente no desenvolvimento de bionsumos, que foram lançados em parceria com a iniciativa privada e que vem contribuindo para a redução do uso de fertilizantes químicos nas lavouras e para o controle de pragas e doenças, reduzindo o uso de agrotóxicos”, disse.
Tendências para o agro
Em coletiva de imprensa, o presidente da Embrapa citou tendências para o agronegócio brasileiro, como sustentabilidade, mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, tecnologias digitais, como internet e drones, além de edição genômica. Isso inclui a descarbonização das culturas e a intensificação de tecnologias digitais.
De acordo com ele, a empresa desenvolveu uma plataforma de inteligência artificial para solos para medir a pegada de carbono. A tecnologia integra diferentes softwares e sensores que permitem a digitalização do solo e das atividades agrícolas, permitindo financeiramente medir, reportar, verificar e comercializar (MRVC) o carbono.
A plataforma também faz a gestão da fertilidade do solo e nutrição das plantas, para o gerenciamento de indicadores de sustentabilidade e produtividade agrícola.
“É realmente uma inovação. É algo que vai apoiar muito o produtor brasileiro”, afirmou Moretti. “Os nossos clientes vão seguir preocupados em comprar produtos do Brasil, mas que sejam produzidos por sistemas de forma sustentável”, complementou.
Rastreabilidade
Neste contexto, ele disse ainda que a Embrapa desenvolveu um sistema que permite o rastreamento dos alimentos, desde a sua origem até a prateleira dos supermercados. Batizada de Sistema Brasileiro de Agrorrastreabilidade (Sibraar), a ferramenta é atualmente aplicada no processo de rastreamento do açúcar demerara de uma empresa.
Com ele, é possível obter dados como a procedência do produto, sistema de produção, processos industriais, laudos de qualidade até dados sobre logística. As informações são visíveis a partir de QR Code impresso na embalagem. Como já noticiado pelo Gigante 163, a estratégia vem se consolidando como tendência de mercado.
“Dá segurança para mostrarmos diversos produtos, como açúcar, carne, soja, dentre outras coisas. Cada lote recebe uma assinatura digital que ajuda a combater em casos de adulteração, entre outros”, afirmou.
Segurança alimentar e sustentabilidade
Para garantir a segurança alimentar no mundo as pesquisas devem seguir no rumo da adaptação de culturas para as regiões tropicais, da tolerância à seca, da maior resistência a eventos climáticos extremos e do combate às pragas e doenças. Tudo isso, de maneira sustentável.
“A tendência [para o futuro] é a questão da adaptação e mitigação das mudanças climáticas, e a Embrapa já vem trabalhando em uma série de projetos e pesquisas com o foco em promover a adaptação e resiliência dos sistemas de produção agrícola, pecuária e florestal”, disse o presidente.
Frente a estas demandas, Moretti explicou o trabalho será intensificado nas áreas de biotecnologia (com destaque para a edição genômica), nanotecnologia (como, por exemplo, uso de nanopartículas bioestimulantes para melhorar o desempenho de culturas agrícolas e controlar doenças em animais), e nos sistemas integrados de lavoura, pecuária e floresta (ILPF).
“Os nossos clientes nos quatro cantos do mundo vão seguir preocupados em comprar do Brasil, mas comprar produtos que venham de sistemas sustentáveis. Não tenho dúvida que a sustentabilidade e a questão da governança ambiental e corporativa vão estar no centro da agenda agrícola brasileira”, concluiu.
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