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Extremos climáticos dizimam 23 mil cabeças de gado em dois meses

Extremos climáticos dizimam 23 mil cabeças de gado em dois mesesSituação afeta pecuária de leite e de corte. Foto: Agência Brasil

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Por André Garcia

De norte a sul do Brasil a pecuária sofre o efeito das mudanças climáticas, que, tanto pela estiagem quanto pela inundação, levam à perda dos sistemas de produção e pastagens, conduzindo os rebanhos a um trágico destino. Para se ter ideia, enquanto as enchentes mataram mais de 17.000 cabeças de gado no Rio Grande do Sul, em Roraima, uma seca sem precedentes é a responsável pela morte de 6.734 bovinos.

Desde 2023, o estado do Norte enfrenta uma severa estiagem, que se agravou em dezembro e se estendeu até março de 2024, resultando, inclusive, na falta de água potável. De acordo com o Governo Federal, a seca prolongada também aumentou os incêndios florestais e resultou na infestação de pragas como a lagarta militar e o percevejo-das-gramíneas, agravando os prejuízos principalmente entre os pequenos produtores.

Neste contexto,  quatro municípios registram perda de 46.329 hectares de pastagens, o que comprometeu a hidratação e a alimentação dos animais, segundo levantamento realizado pelo Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Iater) entre 5 e 19 de junho. Diante disso, na última semana, foi decretada situação de emergência nos nove municípios  de Roraima mais afetados.

Um extremo climático oposto aflige os produtores gaúchos, que viram as cheias dizimarem 29.600 cabeças de gado. Conforme relatório da Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS-Ascar) elaborado entre 30 de abril e 24 de maio, as perdas diretas correspondem a 14.806 bois de corte e 2.451 bois de leite, afetando significativamente 3.711 criadores.

Animal debilitado após enchetes que atingiram região Sul. Foto: Emater/RS Ascar

No mês passado, pecuaristas de outros estados chegaram a enviar feno para alimentar os animais sobreviventes, já que agora o pasto precisará ser replantado. Além disso, o presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês (Gadolando), Marcos Tang, explicou recentemente que as propriedades terão de lidar com desafios que envolvem a manutenção do plantel, a sanidade, o bem-estar, a reprodução e a criação de terneiras.

“A maioria já havia gasto altos valores com a semeadura das pastagens de inverno. Tudo foi lavado. As doações que recebemos foi o que realmente ajudou a minimizar um pouco esses efeitos nas regiões mais afetadas, principalmente nos Vales, onde realmente tivemos perdas consideráveis de animais, muita estrutura perdida e os alimentos para esses animais perdidos”, pontuou.

As mortes causadas pelas chuvas também afetaram outros setores produtivos. Crédito: Emater/RS Ascar

Novo normal

Em entrevista ao Gigante 163 no ano passado, Rodrigo Marques, professor-doutor de Climatologia do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), já havia adiantado que estes eventos seriam cada vez mais comuns, sendo considerados “o novo normal”. De acordo com ele, a humanidade já passou por outras mudanças climáticas, mas nenhuma aconteceu tão rápido como se observa agora.

Um exemplo disso vem de Mato Grosso do Sul. Em junho de 2023, o frio levou mais de 2.700 bois, vacas e bezerros à morte por hipotermia, conforme a Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro). Se à época o problema eram os registros de até 11°C em algumas regiões, agora o que ameaça o gado é uma seca sem precedentes, temperaturas acima da média e explosão de quase 2.000% no número de queimadas.

Em 2023, morte por hipotermia causou prejuízos de mais de R$ 5 milhões. Foto: Iagro

Este cenário, que costuma ser observado somente a partir de agosto, fez com que o governo estadual decretasse situação de emergência na última semana. Conforme o Executivo, o documento considera, além do acesso a recursos extraordinários para enfrentar o fogo, os impactos sobre a agropecuária e os prejuízos expressivos à vegetação, solo e fauna.

“Isso mostra que precisamos entender o novo ritmo climático e realizar ações que permitam que estas atividades tenham continuidade. É muito mais fácil parar de queimar e desmatar do que mudar a circulação atmosférica”, afirmou Rodrigo na ocasião.

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