Nas propriedades da família Wolf em Nova Canaã do Norte (700 km ao Norte de Cuiabá), o planejamento dos consórcios de cultivos começa no ano anterior, já que as espécies são escolhidas respeitando o clima do ano seguinte.“Temos que respeitar as janelas climáticas. Nós fazemos a nossa parte, e Deus faz a dele”, explicou Daniel Wolf, durante o painel online sobre mudanças climáticas realizado pela empresa de meteorologia Climatempo.
Frente às ameaças das mudanças climáticas, Daniel recomenda:
“É pensar no meio ambiente como um todo, treinamento contra o fogo, rede de esgoto nas propriedades. Pecuária extrativista já não existe mais. Não é complexo: é cuidar bem das plantas, dos animais, dos rios e das pessoas”.
A família Wolf chegou em Mato Grosso em 1975. Os pioneiros vieram do Norte do Paraná para criar gado. Daniel conta que quando o pai chegou se perguntava se um dia tiraria ao menos um boi gordo. Hoje, os pecuaristas estão na vanguarda da tecnologia e provam que é possível produzir mais adotando novas tecnologias, como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).
Atualmente, as três fazendas da família, que juntas somam 15.240 hectares, produzem até 4 animais de 450 kg (UA) por hectare durante o período da seca, enquanto a média em Mato Grosso é de 0,8 UA por hectare. Tudo isso consorciado com a agricultura, silvicultura e produção de suplementação animal.
Segundo o empresário rural, o segredo é sempre acompanhar os avanços tecnológicos para não ficar defasado e ser obrigado a dar um salto muito grande quando for confrontado com a necessidade de mudança.
“O nosso lema é humildade para copiar e coragem para executar”, afirmou durante o debate.
Para ele, adotar ou não novas tecnologias é uma questão de escolha: “Tenho clientes [de suplementação animal] que possuem alta produtividade em pequenas áreas e clientes com baixa produtividade em grandes áreas”.
Boi no ar condicionado
O emprego da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta nas fazendas da família do Daniel, além de aumentar a taxa de ocupação animal, devido a melhoria da pastagem, traz conforto térmico ao gado. Os estudos realizados nas propriedades, que abrigam uma Unidade de Referência Técnica da Embrapa, apontam que o consórcio com a floresta reduz a temperatura dos piquetes em até 10 graus.
A floresta plantada produz duas espécies exóticas, teca e eucalipto, e duas nativas, pinho cuiabano e pau de balsa, garantindo a autossuficiência das propriedades, já que a madeira colhida é utilizada para cercamento e os cavacos queimados nas caldeiras, para secagem de grãos. Todas as três propriedades da família protegem 50% da área, reserva exigida pela legislação à época em que as terras foram adquiridas.
Já para a agricultura, a formação da palhada proporcionada pelo capim forma uma cobertura que mantém a umidade do solo por mais tempo, protegendo as plantas de veranicos. Além disso, a técnica também aumenta a quantidade de matéria orgânica no solo e eleva a saturação de base.
Sistema Integrado
A tecnologia brasileira de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta foi reconhecida pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (United Nations Framework Convention on Climate Change – UNFCCC) como inovação que contribui para a segurança alimentar, a renda dos agricultores e desenvolvimento sustentável.
O sistema produtivo que integra lavoura, pecuária e floresta é considerado uma das mais importantes revoluções da agropecuária nacional. Desde o início da expansão agrícola do Centro-Oeste brasileiro, a agropecuária nacional teve inúmeros avanços como: sementes mais bem adaptadas ao fotoperíodo das diversas regiões brasileiras, técnicas de plantio sobre a palhada, rotação de cultivos, capins mais nutritivos e raças bovinas mais produtivas. O ILPF reúne todas estas inovações em uma única estratégia.