Por André Garcia
Entre janeiro e outubro deste ano, o fogo destruiu a Amazônia 10 vezes mais do que o desmatamento: foram 6,7 milhões de hectares queimados contra 650 mil hectares desmatados, segundo dados do Mapbiomas e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados nesta quarta-feira, 20/10, na COP29, em Baku (Azerbaijão).
Para Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), que faz parte da rede MapBiomas, os dados praticamente anulam os esforços pela redução do desmatamento, que como temos mostrado, vem apresentando uma queda expressiva nos números nos últimos dois anos.
“O impacto das mudanças climáticas mostra que as secas severas podem gerar esse cenário de incêndios, que tomou uma proporção alarmante”, avalia Ane, relacionando a ameaça das queimadas aos efeitos do aquecimento global.
Em todo o País, os incêndios consumiram 27,6 milhões de hectares, ou 119% a mais do que o total queimado no mesmo período do ano passado. Esta área, que equivale ao estado do Tocantins, também cresceu 15 milhões de hectares na comparação com o acumulado de 2023.
Depois da Amazônia, O Cerrado foi o segundo bioma mais afetado, com 9,4 milhões de hectares. No Pantanal, a área queimada entre janeiro e outubro de 2024 aumentou 1.017%. Foram 1,8 milhão de hectares – ou 1,6 milhão a mais que o mesmo período do ano passado.
Fogo diminui em outubro, mas ainda é ameaça
Depois de um setembro devastador, com recorde de incêndios florestais, as chamas deram uma trégua em outubro e apresentaram redução de 50% de um mês para o outro. Ainda assim, a área queimada em outubro foi de 5,2 milhões de hectares, um aumento de 42%, ou 1,5 milhão de hectares a mais que em 2023.
Ao todo, 73% do fogo no país em outubro foi na região amazônica. Além disso, 64% de tudo que foi queimado ocorreu em áreas de vegetação nativa – as florestas representaram 45%. No mesmo período do ano passado, os incêndios devastaram 717 mil hectares, ou seja, houve um aumento de 7,5 vezes em apenas um ano.
O Cerrado é o segundo bioma com maior área queimada em outubro, com 934 mil de hectares queimados. A maioria das áreas queimadas foram em vegetação nativa (86% ou 806 mil hectares), sendo que mais da metade (52%) foram de formações savânicas (481 mil de hectares).
No Pantanal, 261 mil hectares queimaram em outubro, ou 14% do total dos primeiros dez meses deste ano. A quase totalidade (97%) do que foi queimado no mês passado foi em vegetação nativa, sendo 36% em campo alagado e área pantanosa e 32% em formação campestre.
Ranking dos estados
Mato Grosso respondeu por quase um quarto (24%) da área queimada em todo o Brasil (6,7 milhões de hectares), seguido por Pará e Tocantins, com 6,1 milhões e 2,7 milhões de hectares, respectivamente. Juntos, esses três estados totalizaram 56% da área queimada no período.
Com relação aos municípios, o levantamento do MapBiomas aponta que os que mais queimaram foram São Félix do Xingu (PA) e Corumbá (MS) com 1,4 milhão de hectares e 795 mil hectares, respectivamente.
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