Por André Garcia
Incêndios e secas frequentes estão acabando com a capacidade da Amazônia de retirar carbono da atmosfera e armazená-lo no solo: em áreas atingidas, esta troca já é 18,7% menor. Na prática, isso afeta a regulação do clima e torna o solo menos fértil— um cenário que ameaça as bases da produção agropecuária brasileira.
É o que mostra novo estudo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), publicado na segunda-feira, 10/3, na revista científica Forest Ecology and Management. A pesquisa é uma das primeiras a investigar a relação entre queimadas e o solo no bioma.
“Essas florestas atingidas por fogo e seca vão se tornando cada vez mais degradadas ao longo do tempo, principalmente devido à redução do intervalo de tempo entre esses eventos extremos, impedindo que elas se recuperem”, explica o pesquisador do IPAM e um dos autores do estudo, Leonardo Maracahipes-Santos.
Ou seja, o fogo aumentou a mortalidade das árvores e raízes que, em conjunto com o estresse causado pela seca, reduziu o processo de fotossíntese. Esse processo obriga a floresta a usar reservas de energia antigas, tornando-a mais vulnerável a eventos extremos futuros, que devem se tornar mais frequentes com as altas temperaturas.
“Isso significa que elas vão perdendo sua capacidade de estocar carbono no solo, e passam a usar suas reservas de energia para conseguir suportar esses eventos extremos e sobreviver. Como consequência, a floresta reduz sua capacidade de retirar carbono da atmosfera, agravando a emergência climática,” detalha Leonardo.
Estratégia da Pesquisa
Os resultados foram alcançados após seis anos de investigação (entre 2004 e 2010), na Estação de Pesquisa Tanguro. Para tanto, os pesquisadores analisaram duas partes da Floresta: uma frequentemente atingida pelo fogo experimental e outra preservada (controle). Ambas passaram por dois episódios de seca extrema no período.
Ao longo do trabalho foi constatado que o crescimento das raízes finas foi analisado por meio de instalação de canos com telas, no solo, retirados a cada três meses. Já a análise do uso de reservas de energia das árvores foi feita por meio da datação do carbono nas moléculas de açúcares e amidos das plantas.
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