Por André Garcia
As queimadas no Pantanal alcançam os piores índices desde que o monitoramento de incêndios florestais começou a ser feito no País, em 1988: já são mais de 2 milhões de hectares consumidos pelas chamas, que já mataram milhares de animais selvagens na região e ameaçam, sobretudo, 74 espécies sob risco de extinção.
Os incêndios atingem as copas das árvores e queimaram 80% de uma área crucial de nidificação para araras-azuis, cuja população está em declínio. Onças, tamanduás, antas, macacos e veados também estão na lista de vítimas das queimadas, que interrompem a cadeia alimentar e deixam um rastro de destruição de plantas, insetos e pequenos animais.
O Pantanal é um labirinto de rios, florestas e pântanos que se estende por 175.000 quilômetros quadrados, dos quais 80% estão localizados no Brasil. Normalmente alagado durante grande parte do ano, o bioma vem sofrendo com uma sucessão de secas severas, associadas ao desmatamento e às mudanças climáticas.
Listada como patrimônio da Unesco, por sua biodiversidade, a região abriga cerca de 4.700 espécies de animais e plantas, que há décadas cientistas vêm trabalhando para proteger. Este número pode ser ainda maior, o que coloca o bioma no centro das atenções em todo o Planeta.
“Os pântanos são cofres de biodiversidade, e muitas das espécies que neles habitam não são encontradas em nenhum outro lugar. Isso já é motivo suficiente para protegê-los, mas também dependemos dos pântanos”, defendeu recentemente Steve Trent, CEO e fundador da Environmental Justice Foundation (EJF).
Alerta no Encontro das Águas
A velocidade dos ventos intensifica as chamas, que alcançam até jaguares, normalmente ágeis o suficiente para escapar da maioria dos perigos. Três foram encontrados mortos desde que os incêndios começaram, enquanto outros quatro foram resgatados e tratados por queimaduras, segundo conservacionistas na região.
Na semana passada, a Environmental Justice Foundation, que atua na região, alertou que o Parque Estadual Encontro das Águas, que abriga a maior concentração de jaguares do planeta, está a apenas dias de sofrer danos irreversíveis. A área abriga de quatro a oito animais por cada 100 quilômetros quadrados.
Tragédia mundial
Os cientistas dizem que é muito cedo para dizer exatamente quantos animais estão morrendo, já que muitos estão em regiões remotas, onde os socorristas não conseguem alcançar. Mas temem que o número possa superar o dos incêndios de 2020, que mataram cerca de 17 milhões de animais e queimaram quase um terço do bioma.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), 569 animais foram resgatados em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Nos estados, que têm mais de 8 mil focos de calor, profissionais dos bombeiros, Forças Armadas e Ibama, além de voluntários, lutam para salvá-los enquanto combatem o fogo.
Fim do pesadelo?
Os especialistas acreditam que os incêndios florestais continuarão pelo menos até outubro, quando a esperada estação chuvosa poderá trazer algum alívio. Ainda assim, o ecossistema continuará sob a pressão de incêndios que têm se tornado frequentes nos últimos anos, o que coloca em dúvida sua capacidade de recuperação total.
Se isso não acontecer, inúmeras espécies podem perder seus últimos santuários na América do Sul.
“Se queremos enfrentar a crise climática, nos manter seguros contra tempestades e apoiar vidas e meios de subsistência, tudo começa com eles. Todo investimento que fizermos para protegê-los e restaurá-los agora será recompensado muitas vezes”, pontua Steve Trent.
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