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Fogo mais cedo ameça Pantanal com mudança permamente

Fogo mais cedo ameça Pantanal com mudança permamenteSeca severa, baixa dos rios e El Niño pioram situação. Foto: Governo de MS

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Por André Garcia

Embora o fogo faça parte das características do Pantanal, a intensificação dos incêndios florestais se tornou uma ameaça para a região, que já sofre com temporadas de queimadas estendidas. Normalmente esse período é registrado entre julho e outubro, mas este ano, grandes incêndios vêm ocorrendo desde janeiro, tendo piorado em maio. E a previsão é que, a partir de agora, eles tomem proporções ainda maiores.

O prolongamento desse período é explicado, em parte, por uma seca severa que assola o bioma desde dezembro de 2023. Somam a essa situação as altas temperaturas e a baixa umidade relativa do ar, resultando em um salto de mais de 1.000% nos focos em comparação ao mesmo período de 2023, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) também aponta que a situação é consequência das mudanças climáticas, fenômenos como El Niño e La Niña, e, principalmente, da ação humana. Assim, tanto o Inpe quanto a UFRJ projetam que o cenário é ainda mais crítico do que o de 2020, quando foram destruídos cerca de 4 milhões de hectares, o equivalente a 26% da área do Pantanal.

Mudança permanente

Especialistas apontam que o bioma tem uma dinâmica específica, que obedece ao ciclo de águas e secas, favorecendo a manutenção de plantas aquáticas e depois terrestres. Mas, como estas alterações estão ocorrendo muito rápido, impulsionadas pela conversão de vegetação nativa no Cerrado e na Amazônia, o ambiente não tem tempo de se reformular.

Segundo Danilo Bandini Ribeiro, do Laboratório de Ecologia do Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), caso as secas sigam esse ritmo, há risco de que essas mudanças se tornem permanentes.

“Vamos imaginar que essa seca se repita durante alguns anos. Isso acabaria refletindo em um processo de aumento do fogo por causa da extensão da época de queimadas. Então, se acabar a cheia, e o nível do rio ficar baixo, o Pantanal que a gente conhece desaparece. Ele vai se tornar um outro ambiente, talvez mais parecido com o cerrado”, explica ele.

Para piorar, não há previsão de chuva pelo menos até 14 de junho, quando a região pode completar dois meses de estiagem. Conforme o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a possibilidade de melhora no tempo na segunda quinzena do mês também é reduzida: de 1% a 9%. A umidade relativa segue baixa, atingindo 22% na quarta-feira (12) e as temperaturas devem ficar entre 22ºC e 37ºC esta semana.

Seca severa

A seca e o calor na Bacia do Alto Paraguai não foram suficientes para transbordar os rios e conectar lagoas neste ano, o que levou a Agência Nacional de Águas (ANA) a declarar situação de escassez hídrica iminente na região. Segundo o Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima (Cemtec) de Mato Grosso do Sul, no início do ano a chuva atingiu níveis de 600 a 800 milímetros, bem abaixo dos 1.400 milímetros esperados.

Além disso, como já mostramos, recentemente o Serviço Geológico Brasileiro (SGB) reportou que o Rio Paraguai, o principal do bioma, apresenta seus menores níveis históricos. Na estação de medição de Porto Murtinho (MS), a altura foi mantida abaixo de 250 cm ao longo do ano, valor que também está muito abaixo da média considerada normal para o período, de 250 e 550 cm.

Poder público tenta reverter o cenário

Frente à tragédia que se anuncia, o Governo Federal e os governos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul assinaram, na quarta-feira, 5/6, um pacto que prevê ações integradas de prevenção e combate aos Incêndios no Pantanal. Além disso, nesta segunda-feira, 10/6, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), deu aval para o Prevfogo contratar brigadistas temporários.

Na quinta-feira, 6/6, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a omissão e negligência do Congresso por não aprovar até hoje uma lei específica para o bioma, estabelecendo prazo de 18 meses para que isso seja feito. No Senado, está em análise desde 2020 uma proposta que cria o Estatuto do Pantanal, também para regular a conservação, a restauração e a exploração sustentável do bioma.

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