Lideranças indígenas do povo Rikbaktsa pediram aos representantes do Estado de Mato Grosso o arquivamento do processo de licenciamento da Usina Hidrelétrica (UHE) Castanheira, no município de Juara (MT). As informações são do site O Eco.
O apelo aconteceu durante o 1º Acampamento Terra Livre de Mato Grosso (ATL-MT), quando os indígenas entregaram uma carta a Alex Sandro Antônio Marega, secretário executivo da Sema-MT, na terça-feira (11).
Com 140 MW de potência instalada, a hidrelétrica deve gerar 98,4 MW de energia firme, de acordo com o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do projeto. Os impactos da empreitada atingiriam o rio Arinos, que banha a Terra Indígena (TI) Japuíra e Erikpatsa, do povo Rikbaktsa, onde ela seria construída. O curso d’água ainda tem como principal afluente o rio dos Peixes, que cruza a TI Apiaká/Kayabi, onde habitam Apiakás, Kawaiwetes e Mundurukus, além de indígenas isolados. Caso seja construída, a usina pode afetar, ainda, o povo Tapayuna, que não possui território demarcado.
Os impactos também afetaria cerca de 800 espécies de fauna silvestre, sendo algumas delas restritas da Floresta Amazônia. Entre os 66 mamíferos registrados, estão ameaçados de extinção ariranha, anta, onça-pintada, queixada, cachorro-vinagre, tamanduá-bandeira e tatu-canastra. Os dados estão no Relatório de Impacto Ambiental (Rima) da usina.
Em virtude da proximidade com territórios indígenas, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) também exigiu Estudo de Componente Indígena (ECI) nas TIs Apiaká/Kayab, Japuíra e Erikpatsa. O documento foi apresentado aos indígenas no ano passado.
Dentre os impactos para os povos originários foram apresentados: o potencial aumento da incidência de doenças; drogas e álcool; restrição de acesso a áreas usadas nas atividades produtivas e limitação para obtenção de recursos naturais; interferência na disponibilidade de recursos florestais e nas atividades de caça; conflitos na atividade de pesca; interferência no estoque pesqueiro; interferência nas atividades de pesca de tracajás e coleta de ovos (o que afeta práticas tradicionais) e a interferência no uso da fauna de caramujos e conchas.
“O rio Arinos faz parte da nossa vida. O rio é fonte de vida, de alimento, coletamos ervas medicinais na beira do rio, tracajás, ovos de tracajás, sementes, castanhas e também dois caramujos que fazem parte do nosso ritual de casamento, o Tutãra e Waibubutsa. Sem o rio perderemos nossa cultura tradicional do casamento”, disse trecho da carta.