Por André Garcia
O perfil de desmatamento no Cerrado é marcado por extensas áreas de devastação concentradas em poucas propriedades. Para se ter ideia, os latifúndios concentraram 48% (ou 193 mil hectares) do desmatamento registrado em propriedades privadas no bioma durante o primeiro semestre de 2023.
Dados do Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (Sad) divulgados na última semana pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) mostram que os pequenos proprietários foram os que menos desmataram, respondendo por 19% (76 mil hectares) da perda de vegetação nativa no período.
No caso das propriedades médias, a perda corresponde a 33% (133 mil hectares). Outro dado que chama a atenção no levantamento é que a derrubada tem acontecido mais rapidamente dentro das propriedades privadas observadas nos últimos meses.
Piora nos índices
Entre janeiro e junho, o desmatamento no Cerrado atingiu 491 mil hectares no primeiro semestre de 2023, área sete vezes maior que a cidade de Salvador. Esse número representa um aumento de 28% em relação ao mesmo período no ano passado, quando foram desmatados quase 383 mil hectares.
Além disso, foram confirmados 126 mil hectares de desmatamento no mês de junho, um aumento 20,6% em relação ao ano passado. Estados do Matopiba – fronteira agrícola composta por áreas dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – responderam por 74,7% de todo o desmatamento no bioma, cerca de 367 mil hectares.
Chegada da seca
Dados para o primeiro semestre confirmam o aumento acelerado do desmatamento observado no início do ano. Com a chegada do período seco no Cerrado, pesquisadores do SAD também alertam para a possibilidade de números ainda maiores nos próximos meses.
Para Tarsila Andrade, pesquisadora do IPAM, o volume de desmatamento, ainda no início da seca, tem sido alarmante.
“Durante o período da seca, a expansão agropecuária tende a aumentar devido às condições climáticas propícias para as atividades agrícolas. No entanto, os índices de desmatamento no Cerrado estão alcançando níveis recordes já nos primeiros meses da estação seca deste ano.”
De acordo com ela, esse aumento evidencia a intensidade e velocidade do processo de destruição do bioma.
“Por isso é fundamental o estabelecimento de políticas e ações efetivas que visem à proteção e preservação do Cerrado, considerando seus ecossistemas únicos, a biodiversidade e o papel crucial que desempenham na mitigação das mudanças climáticas”, destacou.
SAD
O SAD é um sistema de monitoramento desenvolvido por pesquisadores do IPAM que fornece alertas de desmatamento de vegetação nativa em todo o Cerrado. O projeto faz uso de imagens do satélite Sentinel-2, da Agência Espacial Europeia, e técnicas avançadas de processamento de imagem.
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