Por meio de geomonitoramento e estratégia de engajamento com os fornecedores, a Marfrig controla hoje 72% de sua cadeia indireta na Amazônia. A rastreabilidade da produção deve chegar aos 100% em 2025, como prometido há pouco menos de três anos, quando seus frigoríficos foram os primeiros a adotar o método no Brasil.
No Cerrado, o patamar é de 71% e a meta de rastreabilidade completa deve ser antecipada em relação ao prazo original, de 2030. A companhia afirma que, para garantir uma cadeia totalmente livre de desmatamento, precisará do poder público. Por isso, tem sido uma das maiores vozes de um coro por uma política nacional de rastreabilidade.
De acordo com publicação da Reset, a Marfrig tem mobilizado diferentes atores do segmento, de ONGs a instituições financeiras, para apresentar uma proposta ao governo federal. Na quinta-feira 27/4, o diretor de sustentabilidade da empresa, Paulo Pianez, se reuniu com cerca de 30 destes representantes para discutir caminhos para o setor.
“Construímos um sistema robusto com o que temos disponível, mas a verdade é que ele tem limitações. Estamos caçando com gato. Temos que aproveitar que novamente temos uma escuta ativa no governo. Não é mais uma questão de cada empresa, de Marfrig, JBS, Minerva, de Frigol, é uma questão de Brasil”, disse.
Segundo o executivo, é crescente o consenso sobre a necessidade de uma política mais robusta de rastreabilidade. Como já mostrado pelo Gigante 163, o discurso vem ganhando cada vez mais adeptos, preocupados com a sobretaxação a produtos associados ao desmatamento. A União Europeia já aprovou uma lei nesse sentido.
Desafio na verificação
O ponto central é que os sistemas de monitoramento se baseiam em dados autodeclarados pelos produtores. O mais básico deles é o Cadastro Ambiental Rural (CAR), registro obrigatório para todas as propriedades rurais, com o objetivo de unificar informações ambientais.
Esses dados precisam ser verificados pelos órgãos ambientais estaduais, mas até hoje apenas 2% passaram pela validação completa. Outro pleito da companhia é que a Guia de Transporte Animal (GTA), documento hoje usado para controle sanitário, também seja aberta para mostrar o caminho do gado.
Na prática, o GTA dá a garantia que há adequação sanitária — uma grande preocupação do setor —, mas os produtores sempre foram resistentes em abrir o documento porque ele contém informações consideradas sensíveis do ponto de vista comercial, como o estoque de gado de cada propriedade.
“Por que não abrir essa informação do GTA e torná-la pública, e permitir integrá-la ao CAR? É um passo rápido para todo setor conseguir a rastreabilidade”, questiona.
O Ministério do Meio Ambiente se mostra sensível ao assunto. O Plano de Ação para Prevenção e Controle de Desmatamento da Amazônia Legal (PPCDam), por exemplo, foi retomado após anos parado no governo Bolsonaro, colocando a integração entre base de dados como um dos pontos para atacar o desmatamento na região.
Soluções financeiras
Além do poder público, a Marfrig afirma também que é necessário trazer soluções financeiras para que os produtores de pequeno e médio porte operem em conformidade ambiental. Este ponto também já foi tratado pelo Gigante 163 e vem sendo discutido desde o início do Plano Verde+ da companhia, que avançou pouco.
“Tem muito produtor com problemas ambientais históricos, e que não consegue se regularizar por falta de acesso a financiamento. Tem que ser crédito com alguma carência, temos que pensar em juros subsidiados, desenhos em que a própria indústria [de frigoríficos] possa fazer parte da garantia e diminuir o risco”, afirma Pianez.
Para resolver isso, a Marfrig oferece assistência técnica e jurídica aos fornecedores para ajudá-los na regularização, em vez de apenas excluir da cadeia os que não estão em conformidade. Segundo a empresa, desde o início do plano 3036 produtores foram regularizados. Sua cadeia conta com cerca de 60 mil produtores, diretos e indiretos.
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