O governador do Mato Grosso, Mauro Mendes, sancionou uma lei que inclui a figura do “boi bombeiro” em áreas de proteção permanente (APP), com o objetivo de auxiliar no combate aos incêndios no Pantanal, um dos biomas mais atingidos pelas queimadas. Na teoria, o gado, ao consumir o capim seco e inflamável, reduziria a propagação do fogo.
Embora a medida contribua com a expansão das terras produtivas, ela eleva o risco de queimadas para os produtores do estado. O cruzamento de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de rebanhos bovinos com os focos de queimadas, que são registrados pelo Programa Queimadas, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), mostram que nas cidades onde há mais cabeças de gado no Pantanal é onde estavam concentrados o maior número de focos de incêndios.
Além disso, nos últimos anos, a criação de gado aumentou no Pantanal, ao invés de diminuir. Se a tese do “boi bombeiro” estivesse correta, o fogo não se alastraria com tanta força como tem acontecido.
O mais curioso dessa tese que agora virou lei é que ela já foi rechaçada pela Governo Mauro Mendes. Em 2020, quando ele fazia sua primeira gestão como governador e surgiu a teoria do “boi bombeiro”, sua Secretaria do Meio Ambiente descartou a possibilidade de os incêndios de então terem sido causados por falta de gado na região. Naquele ano, a Sema-MT, culpou a seca pelas queimadas.
Mato Grosso tem 90.335.700 hectares. Destes, 34.504.253 hectares, ou seja 38% do seu território, são ocupados por produtores rurais que têm sido direta ou indiretamente atingidos pelos incêndios. A medida do governador beneficia apenas um pequeno grupo com propriedades nos municípios pantaneiros produtores de gado, liderados por Cáceres.
Ou seja, para permitir o aumento do patrimônio de um pequeno grupo de produtores, o governador legisla pelo aumento das queimadas que afetam a todos – inclusive quem não atua no nosso setor e está sofrendo com a fumaça, principalmente as crianças e idosos.