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Mínima histórica: bacia do Rio Paraguai está 2,4 m abaixo da média

Mínima histórica: bacia do Rio Paraguai está 2,4 m abaixo da médiaRio Paraguai está em situação crítica — Foto: Defesa Civil

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Por André Garcia

A bacia do Rio Paraguai chegou ao menor índice já registrado para o mês de maio na história, com média de volume de água 2,4 metros abaixo da esperada no Rio Ladário, usado como estação de referência para a medição. O número foi divulgado na quinta-feira, 16/5, pelo Boletim de Monitoramento Hidrológico do Serviço Geológico do Brasil (SGB).

São as  mudanças climáticas que, cada vez mais, têm feito com que um ciclo natural, como a seca, se intensifique e dure mais tempo, e, com a alta temperatura, resulte em incêndios florestais intensos.

Segundo o SGB, o nível em Ladário é de 1,44 m e pode ficar ainda mais crítico entre setembro e outubro, final do período de estiagem, que, oficialmente, começou neste mês. O problema é que, mesmo no ciclo chuvoso, iniciado em outubro de 2023, uma seca severa já se estabelecia na região, que engloba Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Essa estação chuvosa, que durou até abril, foi caracterizada por um déficit no volume de chuvas, que prejudicou a recuperação da bacia, responsável por abastecer todo o Pantanal. Neste mês, era esperado em torno de 57 mm para a região e foi registrado volume inferior a 3 mm.

Crédito: SGB

Diante deste cenário, as projeções mostram que Ladário pode atingir, no pico da estiagem, uma cota que varia entre o que ocorreu em 2020, quando foi registrado -32 cm, e o cenário mais grave observado em 2021, época em que o rio chegou a -61 cm. Foi exatamente neste período que o Pantanal torrou sob o pior incêndio de sua história.

“Se chover dentro da média, teremos um cenário semelhante ao ano de 2020. Caso as chuvas fiquem abaixo da normalidade, o cenário será mais grave e similar aos anos em que enfrentamos as piores secas da história do Pantanal: 1964, 1971 e 2021”, explica o pesquisador em geociências do SGB, Marcus Suassuna.

Caos

O SGB informa que a situação tem impactos significativos no ecossistema, nas comunidades ribeirinhas, nos estados e em todo o Brasil, com repercussão também em outros países vizinhos, em especial na Bolívia e no Paraguai, que são dependentes da hidrovia Paraná-Paraguai para o comércio exterior.

Além disso, a seca severa provoca dificuldades no abastecimento de água, limitações na navegação, ampliação dos riscos de incêndios florestais e um potencial aumento do tráfego em rodovias, que danifica as estradas e eleva os riscos de mortandade de animais silvestres por atropelamento.

Projeções do SGB se confirmam

Desde fevereiro, o SGB vem emitindo alertas sobre a situação no Pantanal, a fim de subsidiar ações para reduzir os impactos provocados pela seca. O monitoramento é essencial para que os governos acompanhem a evolução hidroclimatológica na bacia, e adotem as medidas necessárias para conter danos.

El Niño e La Niña

Com o fim do El Niño, responsável por chuvas e secas intensas durante o verão em 2023 e 2024, surge outra preocupação: o La Niña. À Agência Fapesp, o professor Pedro Luiz Côrtes, do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo, explicou que o intervalo entre os fenômenos será mais curto que o usual.

Esse período, chamado de neutralidade, costuma durar muitos meses, mas neste ano acontecerá apenas entre os meses de abril e junho. Assim, enquanto El Niño gerou estiagem no Norte e chuvas intensas no Sul, o La Niña deverá inverter com fortes chuvas na Amazônia e temperaturas elevadas nas faixas central e sul do País.

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