HomeEcologia

MT lidera lista dos estados com mais pistas de pouso na Amazônia

MT lidera lista dos estados com mais pistas de pouso na AmazôniaEstruturação do garimpo ameaça também bacias hidrográficas. Foto: FAB

Sob ameaça, rios voadores podem diminuir chuvas no Centro-Oeste
COP26: Desmatamento zero é chave para Brasil atingir metas, dizem especialistas
Inteligência Artificial vai ajudar a combater queimadas na Amazônia

Por André Garcia

Mato Grosso lidera a lista dos estados com maior quantidade de pistas de pouso na Amazônia (1.062), seguido pelo Pará (883), Roraima (218) e Tocantins (205). Divulgados nesta terça-feira, 7/2, os dados são inéditos e fazem parte de levantamento do MapBiomas, que contabilizou 2.869 pistas de pouso no bioma, mais do que o dobro do que há registrado na Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).

Os números também evidenciam a correlação das pistas com o avanço do garimpo e a violação de direitos de comunidades tradicionais na região, o que, como já  mostrado pelo Gigante 163, é motivo de preocupação para o agronegócio mato-grossense. A ligação com o crime, também noticiada por nós, é reforçada pelo doutor em Geologia e coordenador técnico do mapeamento da mineração no MapBiomas, Cesar Diniz.

“Há um problema logístico intrínseco ao garimpo, em especial dentro de Terras Indígenas e Unidades de Conservação, onde não há grandes rotas de acesso terrestre ou fluvial. Isso exige o acesso aéreo para abastecimento do garimpo e escoamento da produção ilegal. Seja por helicópteros ou aviões de pequeno porte, por pistas ilegais ou pistas legais cooptadas pelo crime, grande parte da produção garimpeira amazônica é feita por via aérea”, diz.

Segundo o MapBiomas, ao menos 12% da área de garimpo do Brasil é ilegal, pois está situada em áreas restritas, como as TIs, UCs de Proteção Integral, RPPN e RESEX. Essa porcentagem corresponde a 23 mil hectares, o mesmo tamanho de uma capital como Recife (PN).Neste contexto, o coordenador geral do MapBiomas, Tasso Azevedo, chama atenção para a capacidade de estruturação de uma atividade ilegal, já que a  Constituição não permite exceções nestes territórios.

“A quantidade de pistas e consequentemente, de aeronaves em uso pelo garimpo, bem como o maquinário pesado empregado na atividade, indicam que o garimpo amazônico não é mais artesanal”, avalia.

Bacias hidrográficas e contaminação

O cenário aponta para outro grave problema: a contaminação da água por mercúrio. O impacto ao corpo humano, comprovado recentemente por imagens que denunciaram  ao mundo  a situação de indígenas Yanomamis, também é ameaça para rebanhos e lavouras. Pesando em Mato Grosso,  quando as pistas são classificadas por bacia hidrográfica, a lista é liderada pela Tapajós (658) e pela Xingu  (430) pistas, ambas com extensão pelo Estado.

“É igualmente importante controlar a venda de mercúrio metálico, substância que é ilegal, mas, apesar disso, é largamente comercializada para fins garimpeiros. Também será necessário recuperar os ecossistemas degradados”, afirma Tasso.

Para César, identificar as pistas de pouso encravadas na floresta Amazônica é tarefa essencial para estrangular a mineração ilegal. Logo, a base de dados pública e gratuita que deu origem a este levantamento vai ajudar nesta missão.

“No começo da década de 1990, o país foi capaz de organizar a retirada de mais de 30 mil garimpeiros ilegalmente instalados dentro de Terras Indígenas na Amazônia. É preciso repetir esse feito, mas é preciso ir além, sofisticando a capacidade de rastrear a cadeia produtiva do ouro, geolocalizando o maquinário pesado, que é sempre utilizado pela atividade garimpeira, monitorando em tempo real os sinais de expansão garimpeira em TIs e UCs restritas e protegendo, permanentemente, esses territórios”, pontua.

Pelas coordenadas geográficas, 804 pistas de pouso, ou 28% do total, estão dentro de alguma área protegida, sendo 320 (11%) no interior de TIs. Outras 456 estão a até 5 km de distância de um garimpo, ou menos, o que representa 15,8% do total contabilizado. No interior de Terras Indígenas esse percentual é maior. No caso da TI Yanomami, 33,7% das pistas estão a 5 km ou menos de algum garimpo; na TI Kayapó, esse percentual é de 34,6%; na TI Munduruku, 80%.

Importante lembrar que, em 2021, o bioma Amazônico concentrou mais de 91% do garimpo brasileiro. Nos últimos 10 anos, a expansão da área da atividade em TIs foi de 625%, saltando de pouco mais de 3 mil ha em 2011 para mais de 19 mil hectares em 2021.

No ranking das pistas em Territórios Indígenas os registros são maiores  entre  Yanomami (75 pistas), Raposa Serra do Sol (58), Kayapó (26), Munduruku (21) e o Parque do Xingu (21). Não por coincidência, as TIs mais exploradas pelo garimpo foram a Kayapó, na qual 11.542 hectares foram tomados até 2021, seguida pelo território Munduruku, com 4.743 hectares e a terra Yanomami, com 1.556 hectares.

Unidades de conservação

Nas Unidades de Conservação (UCs), o cenário não é  diferente: a expansão de área garimpada foi de 352% em 10 anos, saltando de 20 mil hectares em 2011 para pouco mais de 60 mil hectares em 2021. Nestas áreas o estudo aponta a existência de 498 pistas, ou 17% do total.

As UCs com maior número de pistas de pouso, por sua vez, são a APA do Tapajós (156 pistas), a Flona do Amaná (53), a APA Triunfo do Xingu (47) e a Floresta Estadual do Paru (30).

LEIA MAIS: