HomeEcologia

Dias seguidos sem chuva passaram de 80 para 100 no Brasil

Dias seguidos sem chuva passaram de 80 para 100 no BrasilPaís está mais seco e quente. Foto: Wikimedia Commons

Setembro começa com tempo quente e seco em Mato Grosso
Onda de calor “assa” o Centro-Oeste e Cuiabá registra recorde em 112 anos
Calor acima da média e os outros impactos que o El Niño nos reserva

Levantamento do INPE mostra que número de dias seguidos sem chuva no Brasil cresceu 25% em 60 anos, passando de 80 para 100 dias, em média. O estudo, que comparou dados climáticos entre os períodos de 1961 a 1990 e de 1991 a 2020, mostra que a maior parte desse aumento se deu nos últimos 30 anos, com o acréscimo de 15 dos 20 dias adicionados à média.

“Esse aumento progressivo é um indicador claro de que as mudanças climáticas já impactam significativamente o clima no Brasil. Na área central do país essa situação é ainda mais crítica, pois o aumento dos dias secos, combinado com o aumento das temperaturas cria um cenário de estresse hídrico elevado, o que impacta diretamente as comunidades rurais, a produção de alimentos e a gestão dos recursos naturais”, explicou Lincoln Alves, pesquisador do INPE responsável pelo estudo.

A pesquisa destaca que as regiões Nordeste, Centro-Oeste e partes do Sudeste são as mais atingidas pela seca prolongada, evidenciando uma mudança nos padrões climáticos. Estados como Ceará, Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão, Bahia, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e parte de São Paulo concentram os índices mais críticos de estiagem.

Nos últimos anos, as precipitações caíram em uma média de 10% a 40% nos Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, contribuindo para a severa seca deste ano. Por outro lado, o Sul e parte de São Paulo e Mato Grosso do Sul apresentaram um aumento de 10% a 30% nas chuvas, o que explica as grandes enchentes de maio no Rio Grande do Sul. Essa distribuição irregular das precipitações, combinada com outros fatores, intensificou os incêndios florestais em mais de 60% do território nacional nos últimos meses.

O cenário reitera a necessidade de acelerar a ação climática, com ação de medidas em escala para a redução de emissões de gases de efeito estufa e para a adaptação à mudança do clima.

Para Alves, o Brasil sendo um país tropical com setores estratégicos, como agricultura e energia, com alta dependência do clima, precisa urgentemente investir em soluções como a captação e armazenamento de água, a adoção de culturas mais resistentes à seca e ao calor, e a promoção de tecnologias sustentáveis para a irrigação.

“É fundamental que as políticas públicas incorporem essas evidências científicas na formulação de estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. As políticas públicas devem priorizar a adaptação ao novo regime climático, integrando as ações climáticas em diferentes níveis de governança”, avalia.

O número de ondas de calor também registrou um crescimento significativo, destaca a Revista Fórum. Elas passaram de 7 para 32 ocorrências, com base na análise dos dados do período entre 1961 e 2020. Além disso, dados relativos a outras pesquisas do INPE para entender os efeitos do “novo anormal climático” no Brasil já apontaram um aumento da temperatura em até 3°C em algumas regiões do País.