Por André Garcia
Mato Grosso vai na contramão do ganho de superfície de água registrado na maioria dos estados em 2022, com perda de -48%. Embora seus três biomas tenham apresentado incremento no período, ao se comprar a série histórica, iniciada em 1985, o cenário é de perdas.
Para exemplificar, em 2022 a superfície de água anual do Pantanal aumentou pela primeira vez desde 2018. Entretanto, o bioma ainda passa por um período seco, com diferença de 60,1% na média da série histórica (1985 a 2022). Os dados foram publicados pelo MapBiomas nesta quinta-feira, 16/2, e mostram ainda que nas últimas três décadas a retração foi de 81,7%.
Embora a redução no Pantanal tenha sido maior em Mato Grosso do Sul, três municípios de Mato Grosso ocupam o ranking dos cinco maiores percentuais de redução, formado por Corumbá (MS), Cáceres (MT), Poconé (MT), Aquidauana (MS) e Vila Bela da Santíssima Trindade (MT).
A boa notícia é que, considerando apenas 2022, outros biomas mato-grossenses também ganharam superfície de água em 2022. O Cerrado registrou + 11,1% e a Amazônia +6,2%. O mesmo ocorreu nos outros ecossistemas brasileiros.
Ainda assim, o coordenador do mapeamento do MapBiomas, Carlos Souza, explica que, apesar do sinal de recuperação, a série histórica aponta para uma tendência predominante de redução da superfície de água em todo o país.
“Todos os anos mais secos da série histórica do MapBiomas ocorreram nesta e na última década. O intervalo entre 2013 e 2021 engloba os 10 anos com menor superfície de água, o que torna essa última década a mais crítica da série histórica”, destaca.
Brasil
De modo geral o levantamento mostra que o Brasil está secando: em 30 anos, o país perdeu 1,5 milhão de hectares de superfície de água. Além disso, mais de dois terços (70%) dos municípios brasileiros tiveram redução de superfície de água nas últimas três décadas.
O ano de 2022, contudo, trouxe certo alívio já que, de acordo com a plataforma, no ano passado a superfície de água no país ficou 1,5% acima da média da série histórica, que tem início em 1985, ocupando 18,22 milhões de hectares, ou 2% do território nacional. Houve uma recuperação de 1,7 milhão de hectares (10%) em relação a 2021, ano de menor superfície na série histórica.
O ano passado também foi o primeiro, desde 2013, em que a superfície de água no Brasil ultrapassou a barreira dos 16 milhões de hectares. Ao todo, o país ainda tem em torno de 6% da superfície e 12% do volume de toda a água doce do planeta.
A superfície de água em reservatórios oficiais (monitorados pela Agência Nacional de Águas, ANA) em 2022 também foi a maior dos últimos dez anos: 3.184.448 ha, 12% a mais que a média da série histórica. Eles respondem por 22% da superfície de água no Brasil; os outros 78% são rios e lagos e pequenas represas.
Sem comemoração
Mesmo diante disso, é importante lembrar que todos os biomas perderam superfície de água entre 1985 e 2022, com destaque para o Pantanal (81,7%). Em segundo lugar vem a Caatinga, que já é o bioma mais seco do país e que perdeu quase um quinto de sua superfície de água (19,1%). Mata Atlântica (-5,7%), Amazônia (-5,5%), Pampa (-3,6%) e Cerrado (-2,6%) também ficaram mais secos.
A tendência de perda de superfície de água foi notada na maioria das bacias e regiões hidrográficas do país. Quase três em cada quatro sub-bacias hidrográficas (71%) perderam superfície de água nas últimas três décadas. E mesmo com o aumento geral da superfície de água no país em 2022, um terço (33%) delas ficaram abaixo da média histórica no ano passado.
Em alguns casos, como o da bacia do Araguaia-Tocantins, o ganho de superfície de água está associado a hidrelétricas.
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