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O impacto da dragagem do Rio Paraguai no Pantanal

O impacto da dragagem do Rio Paraguai no PantanalRio Paraguai é de extrema importância para o equilíbrio do Pantanal. Foto: TV Brasil

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O Pantanal vem sofrendo com a nova dragagem do Rio Paraguai, seu principal curso d’água. A ação, que visa facilitar o escoamento de produtos agrícolas e minerais, coloca em risco a biodiversidade única da região, afetando desde áreas protegidas até comunidades indígenas e tradicionais. As informações são do site o eco.

Os 170 mil km2 do bioma, uma das maiores áreas úmidas e abrigo de vida selvagem da Terra, são a morada de ao menos 380 espécies de peixes, 580 de aves e mais de 2,2 mil diferentes plantas, sem contar animais icônicos como a onça-pintada, o tamanduá-bandeira e o cervo-do-pantanal.

A seca de 2024 trouxe calor excessivo e incêndios recordes para o bioma. Chuvas mais firmes foram previstas para novembro. Até lá, o Pantanal merece toda a atenção.

“Precisamos evitar que a água saia rapidamente do Pantanal”, disse Pierre Girard, do Centro de Pesquisas do Pantanal (CPP) e professor associado do Instituto de Biociências da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).

O que vem acontecendo é que trechos do Rio Paraguai são dragados para aprofundar seu leito e permitir o transporte contínuo de grãos e minérios, sendo a grande maioria para servir a mercados externos. Até meados de agosto haviam sido retirados 110 mil m3 de sedimentos da porção norte do manancial, entre Cáceres (MT) e Corumbá (MS), suficientes para encher 44 piscinas olímpicas.

Este o trabalho é disparado por “ordens de serviço” do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) baseadas em licenças do Ibama para “dragagens de manutenção”.

Ao mesmo tempo em que prometem manter o fluxo de commodities, as dragagens podem formar um “grande ralo”, esvaziar a planície alagável e acelarar prejuízos socioambientais e econômicos.

Uma carta aberta de cientistas foi entregue à Presidência da República apontando que a dragagem do Rio Paraguai pode pode tirar água também de cidades, hidrelétricas, pesca e turismo.

“Que se adote formas menos impactantes, mais viáveis e racionais, como o uso de um sistema de transporte multimodal, incluindo ferrovias e rodovias, com base em tomadas de decisão adaptativas às condições hidrológicas e de navegabilidade, em especial nos períodos de seca anuais e em anos caracteristicamente mais secos”, diz um trecho.

De acordo com autores da carta, apenas a Secretaria Nacional de Hidrovias e Navegação, ligada ao Ministério de Portos e Aeroportos, a respondeu, marcando uma reunião para este 24 de setembro.

Girard afirmou que é urgente recuperar nascentes e a força de rios e outros cursos d’água que mantêm o bioma vivo, muitos deles barrados já nas regiões de planalto.

“Conservar a água deveria ser sempre um primeiro objetivo”, destaca. “Para isso é necessário aprofundar estudos, mas é sempre mais fácil liberar recursos para obras (como à dragagem) do que para a ciência”, concluiu o pesquisador.