A “temporada do fogo” na Amazônia brasileira é o período com maior ocorrência de incêndios florestais, na estação seca do bioma, e só existe porque tem gente que continua usando o fogo em práticas agropecuárias e no processo de desmatamento: 81% dos focos de calor ocorrem de agosto a novembro, na média dos últimos sete anos, com base em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Durante a estação seca, a vegetação e a matéria orgânica no solo ficam propícias à queima e espalham as chamas com maior velocidade, o que pode criar incêndios. O ar menos úmido também favorece o alastramento do fogo e dificulta o combate.
“A principal fonte de ignição dos incêndios florestais na Amazônia é humana, por práticas produtivas ainda ligadas ao desmatamento e ao manejo de pastagem. Descargas elétricas por raios seriam a fonte natural, entretanto, essas ocorrem normalmente no período de chuvas, quando a Amazônia está mais úmida, difícil para o fogo se alastrar”, explica Ane Alencar, diretora de Ciência no Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e coordenadora da rede MapBiomas Fogo.
Na maior parte do bioma no Brasil, a seca começa em julho e vai até outubro, chegando ao auge a partir de agosto. Segundo o MapBiomas Fogo, também entre agosto e novembro está 75% de toda a área queimada na Amazônia de 1985 a 2022.
Temporada do fogo
A área queimada na Amazônia de agosto a novembro do ano passado foi de 5,4 milhões de hectares, mais que o dobro dos 2,2 milhões de hectares queimados de agosto a novembro de 2021. Dos últimos dez anos, 2017 foi o que mais queimou no período: foram 6,7 milhões de hectares, área maior que o estado da Paraíba. Os dados de área queimada mensal são da plataforma MapBiomas Fogo.
Há pelo menos 38 anos tem-se registro da temporada de fogo no bioma, indicam os dados do MapBiomas. O mês de setembro é o que tem maior ocorrência (30,4%). Na série histórica, 1997 é o ano com maior concentração de área queimada entre agosto e novembro. Cerca de 92%, ou 7,2 milhões de hectares, dos 7,8 milhões de hectares atingidos pelo fogo naquele ano foram queimados nesses meses.
Tipos de fogo
“O incêndio florestal é gerado pelo fogo de desmatamento e pelo fogo de pastagem, então se a gente reduzir os dois, a gente vai reduzir os incêndios florestais por consequência”, diz Alencar.
Ela descreve os três tipos de fogo mais comuns na Amazônia brasileira:
- o fogo de desmatamento, que segue o processo de desmatamento (depois de derrubada e seca, a área é queimada);
- o fogo de manejo, que é provocado para “limpeza de pastagem” em área de pasto nativo ou cultivado
- o incêndio florestal, que se espalha e entra na floresta, com impactos diretamente proporcionais à frequência. Ele pode ser originado por chamas que fugiram ao controle humano ou por ação criminosa.
Pará, Mato Grosso e Roraima foram os Estados com maior ocorrência de fogo na Amazônia de 1985 a 2022. Entre as cidades com maior área queimada na série estão: São Félix do Xingu, Cumaru do Norte e Altamira, no Pará; Porto Velho, capital de Rondônia; Santana do Araguaia, também no Pará; e Vila Bela da Santíssima Trindade, em Mato Grosso.
Fonte: Ipam