O Cerrado abriga oito dentre as 12 principais bacias hidrográficas do Brasil e vem sofrendo com a seca antecipada neste ano. Para piorar, com avanço do desmatamento, alguns de seus rios estão desaparecendo. A perda de superfície de água natural no bioma já atingiu 76% dos municípios do bioma. As informações são do Projeto Colabora.
Um exemplo na região Centro-Oeste é em Goiás. Trechos de rios, como o Uruçuí Preto, no Piauí, e o Peixe não são mais vistos por satélite. A área de superfície de água natural do bioma diminuiu pouco mais da metade (53,4%) em 38 anos, atingindo 696 mil hectares na comparação do ano de 2023 contra 1985.
A situação é bastante crítica no Matopiba, principal zona agrícola brasileira, que abrange áreas do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Trechos de corpos água desapareceram na região.
Para a pesquisadora do Ipam, Rafaella Almeida Silvestrini, é grande o risco de uma séria crise hídrica.
“A diminuição da vazão dos rios no Cerrado nos últimos anos, devido às altas taxas de desmatamento no bioma, pode impactar o abastecimento hídrico de cidades, a produção de energia elétrica e a agropecuária”, disse.
Outros fatores que aumentam o risco de uma crise hídrica é a irrigação intensiva, a erosão e degradação do solo e as mudanças do clima.
Com a intenção de evitar perdas significativas, especialmente no período da seca, entre agosto e novembro, fazendeiros costumam criar suas próprias alternativas: o “piscinão”, reservatórios gigantes, que chegam a ocupar quatro hectares de área plantada.
No ano passado, o bioma teve a maior superfície de água desde 1985: 1,6 milhão de hectares ou 9% do total nacional – curiosamente, o maior valor registrado em 39 anos, por ser 11% acima da média histórica. Só que a grande dessa água é de origem antrópica, ou seja, estocada pelo homem, seja em hidrelétricas ou em reservatórios.
De acordo com o MapBiomas Água, apenas 37,5% do bioma é coberto por águas naturais. Os 62,5% restantes estão divididos entre hidrelétricas (828 mil hectares, o que significou 51,1% do bioma) e reservatórios (181 mil hectares, ou seja, 11,2% do Cerrado).
“A redução da superfície de água natural no Brasil é um problema multifacetado, causado por fatores como desmatamento, mudanças climáticas, uso insustentável dos recursos hídricos e crescimento urbano. Os efeitos dessa redução são amplos, impactando tanto a vegetação quanto a população, com consequências para a biodiversidade, segurança alimentar, geração de energia, saúde pública e estabilidade social. A adoção de práticas de conservação, gestão sustentável dos recursos hídricos e políticas ambientais rigorosas é crucial para mitigar esses impactos e garantir a disponibilidade de água para as gerações futuras”, disse o pesquisador Joaquim Pereira.