Por André Garcia
Apesar das chuvas registradas entre outubro de 2024 e março de 2025, o Pantanal continua sob ameaça da seca. Segundo a mais recente nota técnica do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), em algumas regiões a falta de chuva dura mais de dois anos e a bacia do rio Paraguai, a principal do bioma, enfrenta uma das piores crises da história.
Os níveis do rio nas estações de Ladário e Porto Murtinho, em Mato Grosso do Sul, encerraram o mês de março com cerca de 40% abaixo da média histórica. O dado mais alarmante, no entanto, foi registrado em outubro de 2024, quando o índice em Ladário atingiu o menor nível desde o início das medições, em 1900.
“A partir do início da estação chuvosa 2024/2025, os níveis do rio Paraguai começaram a apresentar uma recuperação gradual, embora ainda permanecendo consideravelmente abaixo da média histórica”, diz trecho da nota, que destaca que a seca na região apresenta “intensidade excepcional”, a pior classificação do fenômeno.
Diante da situação, a Agência Nacional de Águas (ANA) chegou a declarar “situação crítica de escassez hídrica” na região em 2024. A situação acende um alerta para os impactos ambientais e econômicos no bioma, cuja dinâmica depende do equilíbrio entre cheias e vazantes.
Assim sendo, o desequilíbrio não só afeta diretamente a biodiversidade do Pantanal, como também compromete atividades econômicas como a pecuária, que depende da renovação das pastagens alagadas, e o turismo, impactado pela seca de rios, redução da fauna e aumento do risco de incêndios florestais.
Falta de umidade no solo
Com um histórico de crises sucessivas desde 2020, o Pantanal enfrenta agora uma nova fase de vulnerabilidade. Isso porque, mesmo que a estação chuvosa tenha garantido alívio pontual em algumas regiões, o solo permanece muito seco.
“Embora as chuvas tenham contribuído para uma recuperação parcial dos níveis dos rios, elas não foram suficientes para mitigar as condições de seca devido ao significativo déficit acumulado no solo, o que retarda a recarga dos corpos d’água, e, consequentemente, a elevação das vazões nessas regiões”, informa o Cemaden.
O seja, mesmo quando chove, o solo seco absorve grande parte da água apenas na camada mais superficial, sem repassar para os rios, lagoas e lençóis freáticos. Como a terra seca não consegue reter a chuva de forma eficiente os níveis continuam baixos e a recuperação do Pantanal fica cada vez mais difícil.
Além disso, neste cenário a vegetação fica fragilizada e o risco de queimadas aumenta consideravelmente. Especialistas alertam que, sem umidade suficiente no solo, qualquer foco de incêndio pode se alastrar com rapidez, principalmente durante os meses mais quentes que estão por vir.
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