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Parecer aponta falhas no estudo de viabilidade da Ferrogrão

Parecer aponta falhas no estudo de viabilidade da FerrogrãoDocumento aponta falta de avaliação de impactos cumulativos. Foto: ANTT

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Por André Garcia

O avanço da ferrovia Ferrogrão, que ligará Sinop (MT) a Miritituba (PA), traria mais impactos ao meio ambiente e às comunidades tradicionais da região do que prevê o estudo de viabilidade técnica, econômica e ambiental (EVTEA), divulgado pelo Ministério de Transportes em setembro de 2024.

De acordo com o estudo, a versão atualizada no ano passado repete problemas do estudo original de 2014. Os autores avaliam que a ausência de risco de desmatamento apontada pelo EVTEA está baseada em premissas genéricas, não comprovadas e contraditórias. Uma delas é a de que o aumento de produção na área de captação da Ferrogrão ocorrerá somente em áreas de pasto degradado, sem resultar em desmatamento.

Eles destacam que, de 2012 a 2023, houve a conversão de mais de 1,3 milhão de hectares de pastagem para soja e de mais de 1,3 milhão de hectares de floresta para pastagem na área de captação da Ferrogrão, o que revela a dinâmica de expansão do desmatamento e da sojicultura em direção ao norte de Mato Grosso.

A conclusão faz parte de estudo apresentado recentemente por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), do Observatório do Clima (OC) e do Instituto Socioambiental (ISA).

Questão fundiária

No documento também são apontados a omissão de riscos climáticos, a falta de avaliação de impactos cumulativos e a ausência de medidas contra a ocupação ilegal de terras públicas.  O temor é que se repita o ciclo visto com a BR-163, onde a pavimentação da rodovia impulsionou desmatamento e a especulação fundiária.

A expectativa pela obra já estaria sendo usada como argumento por grileiros para ocupar terras ao longo do traçado da ferrovia. A regularização fundiária precária da região agrava o risco de violência e avanço do desmatamento, segundo os pesquisadores.

Risco aos rios e comunidades

Com quase mil quilômetros de extensão, a Ferrogrão deve intensificar o tráfego de barcaças no Rio Tapajós, pressionando ainda mais a hidrovia e os portos de Miritituba. A navegação pode se tornar mais difícil em períodos de seca, exigindo dragagens e aumentando os impactos ambientais.

Os cientistas lembram que a seca de 2023-2024 afetou gravemente a região e acendeu um alerta para a fragilidade hídrica da Amazônia. O projeto desconsidera esses fatores e aposta em um modelo de transporte que pode se tornar insustentável com as mudanças climáticas.

 

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