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Pantanal cada vez mais seco é risco para agropecuária da região

Pantanal cada vez mais seco é risco para agropecuária da regiãoEm todo o País houve avanço da agropecuária nos municípios. Foto: Mayke Toscano/Secom-MT

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Por André Garcia

A área alagada e o tempo de duração da cheia estão cada vez menores no Pantanal, onde a superfície de água foi reduzida de 21% em 1985 para 4% em 2023, segundo dados divulgados pelo Mabpiomas nesta quarta-feira, 21/8. E o bioma mais seco é risco para todos, principalmente para a agropecuária.

O mapeamento revela uma mudança na dinâmica da atividade, que tem avançado para o interior do Pantanal, e isso tem que ser visto como um sinal de alerta.

“Como não têm enchido, [a agropecuária] tem ido mais para o interior. Há um processo recente de conversão dessas áreas que tem como motivado a seca e os incêndios. O fogo sempre foi usado no Pantanal, mas se fazia isso logo depois da chuva, com o solo mais úmido, quando era mais fácil controlar esse fogo”, explica o pesquisador do MapBiomas, Marcos Rosa.

A agropecuária, que ocupava 5% da região em 1985, agora compreende 17% do território. Isso porque o Pantanal tem ficado cada vez mais seco devido a uma série de fatores. O desmatamento da Amazônia reduz as chuvas trazidas pelos rios voadores. Simultaneamente, o planeta como um todo está mais quente, o que faz com que a estação seca comece mais cedo e termine mais tarde. Há anos em que isso coincide com o El Nino, o que faz o cenário ficar ainda mais dramático.

À primeira vista, a vastidão de terras planas à mostra deixada por estes fenômenos pode parecer uma boa oportunidade para os produtores agrícolas que buscam por esse tipo de terreno. Mas, como uma miragem, o cenário esconde riscos para a própria agropecuária, já que as lavouras precisarão da pouca água restante para sua irrigação, contribuindo para que a região seque ainda mais.

Isso significa que o Pantanal, naturalmente adequado à pecuária e berço da cultura dos boiadeiros no Brasil, está dando lugar a uma agricultura que, aliada a fatores como o desmatamento e o aquecimento global, contribui para secar a maior planície alagada do mundo.

Vale lembrar que Mato Groso e Mato Grosso do Sul, os dois estados que abrigam o Pantanal, foram os que mais perderam superfície de água, entre 1985 e 2023,

A extensão e rapidez da mudança da cobertura e uso da terra são alguns dos fatores que elevam o risco de desastres ambientais, segundo especialistas. Exemplo disso é a seca severa que atinge o Pantanal, onde, desde janeiro deste ano, os incêndios florestais já consumiram mais de 1.5 milhão de hectares.

Campos nativos e pastagem exótica

Com relação à redução da superfície de água, uma das consequências apontadas pelo MapBiomas é aumento da vegetação herbácea e arbustiva, que passou de 36% para 50% em 39 anos. De acordo com o levantamento, hoje, 200 mil hectares do bioma (2%) são de vegetação secundária.

Neste contexto,Marcos Rosa fala sobre uma substituição da pastagem tradicional, que respeita o ciclo hidrológico e as espécies nativas, por técnicas que removem completamente a vegetação e inserem espécies exóticas no ambiente, ou seja, plantas de outras regiões que podem competir por recursos como água, luz e nutrientes.

“Agora está havendo a remoção da vegetação nativa e plantação de vegetação exótica. O uso tradicional é mapeado como campo nativo. Só quando se remove tudo, inclusive a vegetação de savana, a florestal e a campestre é que classificamos como pastagem exótica”, pontuou o pesquisador em entrevista coletiva.

Maior perda entre os municípios

De acordo com o MapBiomas, do Pantanal, que abrange os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, também é o bioma brasileiro que concentra a maior porcentagem de municípios com perda de áreas naturais (82%), ou seja, paisagens que incluem vegetação nativa, superfície de água e áreas naturais não vegetadas.

Com relação à vegetação nativa, em todo o País, 18% dos municípios tiveram estabilidade entre 2008 e 2023: são locais onde o ganho e perda foram menores que 2%. Em outros 37%, houve ganho de vegetação nativa e em quase metade (45%) foi registrada perda de vegetação nativa no período analisado.

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