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População de MT vive ‘asfixia invisível’ provocada por queimadas

População de MT vive ‘asfixia invisível’ provocada por queimadasAmazônia foi a mais afetada pelas queimadas. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

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Mato Grosso está entre os estados mais afetados pela poluição do ar durante a temporada de queimadas de 2024 na Amazônia. Comunidades rurais, vilarejos e territórios tradicionais em municípios como Colniza registraram níveis de fumaça tóxica muito acima dos limites seguros estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), expondo às pessoas ao ar poluído por semanas consecutivas.

A análise é da InfoAmazonia e abre a série “Invisíveis da fumaça”, que investiga os impactos da poluição atmosférica causada pelas queimadas históricas ocorridas entre julho e dezembro de 2024.

Embora Mato Grosso concentre uma das áreas mais críticas da poluição, a crise respiratória se estendeu também a outros estados da Amazônia Legal. Rondônia e Amazonas foram fortemente impactados, com índices alarmantes de poluição em municípios como Porto Velho, Candeias do Jamari, Itapuã do Oeste, Cujubim (RO), e Apuí, Borba, Novo Aripuanã, Lábrea e Manicoré (AM).

Asfixia invisível

A investigação utilizou dados globais de concentração de material particulado fino (PM2.5), um poluente com menos de 2,5 micrômetros de diâmetro capaz de se espalhar por milhares de quilômetros com o vento. Com base nas informações do serviço europeu Copernicus (CAMS), a InfoAmazonia calculou a concentração média diária de PM2.5 em toda a Amazônia Legal ao longo do segundo semestre de 2024.

Para identificar os territórios mais afetados, os dados foram cruzados com os setores censitários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelando que os piores índices de poluição do ar ocorreram justamente em comunidades isoladas, vilarejos e áreas indígenas e quilombolas, muitas vezes invisíveis às políticas públicas.

No distrito de Demarcação (RO), por exemplo, a média de poluição entre julho e dezembro chegou a 55,4 µg/m³ — 269% acima do limite diário recomendado pela OMS, que é de 15 µg/m³. Foi o índice mais alto registrado em toda a Amazônia no período.

Fronteira da fumaça e avanço do desmatamento

Durante cinco dos seis meses da temporada de queimadas — com exceção de novembro — a fumaça se concentrou na fronteira entre Mato Grosso, Rondônia e Amazonas, onde o avanço do setor agropecuário sobre a floresta tem intensificado o desmatamento e ampliado o risco de incêndios.

Segundo Ane Alencar, diretora de Ciências do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), a presença de áreas degradadas potencializa a propagação do fogo.

“Essa temporada de 2024 foi muito fora da curva. O potencial de propagação foi muito maior, com florestas queimando por dias. Onde há desmatamento, há mais fogo”, afirma.

Entre os territórios mais afetados está também a Terra Indígena Kaxarari, localizada em Lábrea (AM), próxima à divisa com Rondônia. No território, comunidades como Buriti, Marmelinho, Barrinha, Nova, Txakubi, Central, Paxiúba, Pedreira, Kawapu e Extrema conviveram com a fumaça intensa por semanas, sem qualquer tipo de monitoramento ou assistência pública.

A produção é uma parceria entre InfoAmazonia, Agência Carta Amazônia, O Vocativo, Tapajós de Fato e Voz da Terra.

 

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