Por André Garcia
Segundo dados do MapBiomas publicados na quinta-feira, 21/11, o fogo afetou quase metade (44%) dos 164,5 milhões de hectares de pastagens plantadas no Brasil nos últimos 38 anos. A porcentagem representa 72,6 milhões de hectares e acende um alerta aos pecuaristas, já que a situação limita a capacidade do pasto de sustentar o rebanho, podendo levar à redução no peso do gado e à necessidade de abate precoce.
Isso acontece porque o fogo causa problemas como a compactação e erosão do solo, além de prejudicar sua fertilidade ao eliminar matéria orgânica e microrganismos essenciais. Ou seja, além de destruir pastagens cultivadas com altos custos de preparo do solo, semeadura e manejo, as queimadas implicam na necessidade de compra de ração ou forragem para o gado, elevando os custos de produção.
Em nota técnica, o MapBiomas aponta que as pastagens plantadas têm sido importantes fontes de ignição e propagação de queimadas no Brasil. Para se ter ideia, entre 1985 e 2023 elas foram a segunda classe de cobertura e uso da terra mais queimada no Brasil, atrás somente da classe de formação savânica, o que reforça a necessidade de estratégias regionais de controle do fogo e manejo sustentável.
A área de pastagens queimadas variou ao longo dos anos, com uma média anual de 4,6 milhões de hectares queimados, ou um quarto da área queimada anualmente (18 milhões ha/ano). De acordo com a diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e coordenadora do MapBiomas Fogo, Ane Alencar, essa variação reflete os contextos econômicos e políticos que impulsionam as mudanças de uso da terra e as flutuações climáticas.
“Fenômenos como o El Niño causaram secas extremas e episódicas, impactando diretamente a extensão das áreas queimadas, especialmente em anos críticos como, por exemplo, 1987/1988, 1998/1999, 2005, 2007 e 2010, entre outros. Nesses períodos registra-se uma área queimada maior, caracterizada por picos na série temporal devido a condições de estiagem prolongada, o que aumenta a inflamabilidade da vegetação e favorece a propagação do fogo, incluindo em áreas de pastagem”, explicou.
A análise reforça que, embora o fogo venha sendo usado como uma solução barata e eficaz para uniformizar e renovar as pastagens, a dependência dessa estratégia não se mostra mais viável. Prova disso é que em regiões onde a pecuária já está estabelecida há muitos anos, com maior infraestrutura e manejo adequado, o uso do fogo é menos comum ou até inexistente.
Amazônia e Cerrado concentram 92% da destruição
Como temos mostrado, esse tipo de vegetação vem avançando pelos biomas. Em 2023 o Brasil possuía 164,5 milhões de hectares de pastagens plantadas, ou 19% do território nacional. Elas respondem por 59% da área destinada à agropecuária no país. Desde 1985, as pastagens aumentaram em 82%, com Amazônia (59 milhões de hectares) e Cerrado (51 milhões de hectares) concentrando a maior parte dessa expansão.
Quase 70% desse total (49,3 milhões de hectares) ocorreu na Amazônia, onde 83% dos 59 milhões de hectares queimaram pelo menos uma vez. Em seguida vem o Cerrado, com 24%, (17,3 milhões de hectares). Os dois biomas correspondem a 67% de toda a área ocupada por pastagens plantadas no País, respondendo pela quase totalidade (92%) da área queimada desde 1985.
No caso das áreas queimadas mais de uma vez, o percentual total no Brasil é de 67%. Na Amazônia, essa recorrência foi ainda maior, com 76% das pastagens queimando duas ou mais vezes; destas, 41% queimaram entre duas e três vezes, e 34% mais de quatro vezes. No Cerrado, 20% das áreas queimadas registraram fogo duas vezes, e 32% mais de três vezes ao longo do período de análise.
Pastagem plantada
Pastagens plantadas são áreas de vegetação cultivadas especificamente para alimentar o gado. Diferentemente das pastagens naturais, que crescem espontaneamente em áreas nativas, as pastagens plantadas envolvem a semeadura de gramíneas ou leguminosas que apresentam maior capacidade de produção de biomassa, qualidade nutricional superior e adaptação ao clima e solo da região.
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