Por André Garcia
Reconhecida em junho como referência nacional pelo incentivo a boas práticas urbanas e agrícolas, Sorriso (240 km de Cuiabá) voltou a se destacar nacionalmente nesta semana. Só que desta vez, de forma negativa, graças ao laudo que atesta que a morte de mais de 100 milhões de abelhas, muitas delas de espécies em extinção, foi por uso irregular de agrotóxicos.
A situação aponta para a dificuldade do setor que luta para ser desassociado da imagem de “inimigo do meio ambiente” e ser reconhecido como um dos maiores aliados da preservação no Brasil.
Como já mostrado pelo Gigante 163, esses esforços fazem parte de uma mudança na visão estratégica do agronegócio, já que a conservação atende às crescentes demandas de mercado e aumenta a competitividade do País. A questão foi abordada recentemente pelo ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues.
“A ilegalidade bate na sustentabilidade. Mas essa coisa [crime ambiental] que é feita por aventureiros e bandidos tem de ser enfrentada com o rigor da lei. Senão, o concorrente usa esses defeitos como se fosse o todo da agricultura, para depreciar nossa condição competitiva”, disse.
Para entender melhor esta lógica, basta pensar em qual das informações envolvendo a cidade, conhecida como Capital Nacional do Agronegócio, é mais marcante.
Com o programa Eco Sorriso, que estimula boas práticas sustentáveis, fortalecendo a economia local e preservando o meio ambiente, Sorriso obteve o primeiro lugar no Prêmio Cidades Sustentáveis. A disputa na categoria “Econômico” envolveu outros 14 municípios de população média.
O Programa é voltado à sustentabilidade na cidade e no campo. Foto: reprodução
O Eco Sorriso abrange ainda coleta seletiva do lixo, bom uso de ambientes públicos e projetos educacionais. A participação na premiação está condicionada a compromissos como a realização de diagnósticos a partir de indicadores alinhados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da Organização das Nações Unidas (ONU).
Todo esse cuidado se contrasta com a agricultura que causa a morte abelhas pelo mau uso de agrotóxico, conforme laudo o Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea) divulgado neste semana.
Diante das duas informações fica claro que o dano não se limita às mortes das abelhas e ao consequente desequilíbrio de cadeias ecológicas, já que, por efeito de associação, coloca todo o setor no mesmo balaio.
Envenenamento causa desequilíbrio à cadeia ecológica. Foto: reprodução
E para Sorriso, isso não significa pouca coisa. Só na safra deste ano foram plantados 587 mil hectares de soja, 485 mil de milho e 59 mil hectares de algodão. As médias de produção nos últimos quatro anos se mantêm na casa de dois milhões de toneladas de soja, três milhões de toneladas de milho e 160 mil toneladas de algodão.
Além do mais, o caso é um bom exemplo de como o prejuízo poderia ser facilmente evitado a partir de práticas sustentáveis como a utilização de bioinsumos. Com base no controle biológico e na fixação de nitrogênio no solo, os produtos barateiam os custos de produção e garantem eficiência no controle de pragas e na fertilização.
A técnica também foi abordada por Roberto Rodrigues.
“Quem não produzir de forma sustentável não vai ter mercado, e esse ponto é essencial. É preciso controle rigoroso de doenças e pragas que permita ter a segurança de que não vai ter problemas. Procurar insumos cada vez mais biológicos e menos químicos, que hoje demandam importações.”
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