Por André Garcia
Produtores rurais que aliam produtividade e conservação na Amazônia e no Cerrado receberam cerca de R$ 1 bilhão (US$ 240 milhões) em crédito nos últimos entre 2022 e 2023. E se depender da iniciativa Inovação Financeira para Amazônia, Cerrado e Chaco (IFACC), responsável pelo desembolso, o valor vai aumentar nos próximos anos.
O grupo, formado por empresas como Itaú e Syngenta, trabalha para desbloquear US$ 2 bilhões em capital flexível a riscos associados ao investimento na agricultura sustentável, o que vai ajudar a cumprir com sua meta de garantir investimentos de US$ 10 bilhões para o setor até 2030.
Para os beneficiários, a contrapartida é justamente aumentar os rendimentos sem causar mais perda de vegetação nativa, já que, para além da preservação ambiental, a iniciativa visa atender à crescente demanda global por alimentos. Neste contexto, os investimentos privados são cruciais para uma transição agrícola.
“Com a crescente procura global de alimentos, é crucial dar prioridade ao financiamento de inovações para modelos produtivos que reduzam a perda de biodiversidade e protejam habitats naturais críticos, ao mesmo tempo em que aumentam a produção”, explica a chefe de Engajamento do Setor Financeiro da Tropical Forest Alliance, Danielle Carreira,
Desta forma, os signatários precisam comprovar, por exemplo, que a área destinada à produção – seja para pecuária ou para plantio de grãos – não está em área de desmatamento, com data de corte em janeiro de 2020. É uma exigência similar à da lei do desmatamento da União Europeia.
Desbloqueando o capital
Para ajudar a desbloquear este capital tão necessário, o IFACC publicou recentemente uma série de materiais de orientação para investidores, bancos, empresas, gestores de ativos e outros atores do setor.
Isto inclui um documento que articula o imperativo ambiental de investir na produção sustentável de soja e pecuária, o que poderia aumentar a produção de gado em até cinco vezes o nível atual, que hoje está em 30 kg/ha/ano, mantendo ao mesmo tempo um sistema baseado em pastagens e alimentado em grande parte com pasto; e um documento sobre o papel do financiamento transitório no cumprimento das metas climáticas e de uso da terra das instituições financeiras .
O IFACC
O IFACC foi lançado na COP26, em 2021, fruto de iniciativa conjunta da The Nature Conservancy, Tropical Forest Alliance e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. O objetivo é promover empréstimos e investimentos para o uso sustentável da terra, especialmente nas cadeias da soja e gado, setores considerados responsáveis por altos níveis de desmatamento.
Desde então, os seus 16 signatários, que incluem Santander e Syngenta, lançaram 11 produtos financeiros que apoiam a transição do setor na Amazônia e no Cerrado. Estes produtos incluem empréstimos de longo prazo para recuperação de terras degradadas para produção de carne bovina e soja; apoio financeiro para proteger a cobertura florestal além dos requisitos legais; e empréstimos para agrossilvicultura e produção sustentável de produtos florestais não madeireiros.
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