Por Vinicius Marques
Você sabia que cerca de 90% das áreas do Pantanal são de propriedade privada e, dentro dessa porcentagem, 85% da vegetação nativa está preservada? Foi buscando valorizar os produtores que contribuem para esses dados e desenvolver ainda mais o setor que o projeto Fazenda Pantaneira Sustentável (FPS) foi criado — uma parceria entre Famato, Senar-MT, Acrimat e Embrapa. Segundo Jorge Ferreira de Lara, chefe-geral da Embrapa Pantanal, os índices acima apontam que os agropecuaristas da região são um bom exemplo para o agro brasileiro e merecem espaço no mercado.
“O Pantanal é a nossa joia da coroa, em termos de pecuária. Ele possui um futuro muito interessante para o nosso mercado”, diz Lara ao Gigante 163. “Depois de questionarmos como o produtor pantaneiro poderia se inserir no cenário econômico, elaboramos o sistema FPS.”
O FPS nada mais é que um software que faz um diagnóstico inicial em cada propriedade pertencente ao programa, considerando índices de sustentabilidade e apresentando o potencial sustentável que a fazenda possui.
“Para facilitar a visualização, imagine uma escala de 0 a 10 para cada fazenda”, explica Lara. “Feita a análise, uma propriedade pode apresentar um potencial de grau 8 de sustentabilidade, mas no momento ter apenas 3 pontos. O nosso sistema então entregará não só o diagnóstico, mas também um caminho exclusivo para que o produtor caminhe esses 5 graus de diferença.” O FPS, conta, utiliza-se de diferentes parâmetros como: econômicos, tecnológicos, ambientais, sociais, estruturais e de bem-estar animal.
O projeto ainda oferece benefícios a propriedades pertencentes ao programa que apresentarem um determinado índice de sustentabilidade. Isso acaba por incentivar e bonificar proprietários que desenvolverem os pontos observados no diagnóstico. “A decisão de aderir às melhorias é exclusivamente do produtor, em função do próprio capital que ele possui, do mercado e do interesse que ele tem ou não de investir”, diz Jorge Lara. O FPS atualmente conta com 15 proprietários de terra, com previsão de novas adesões para o ano de 2022.
Sustentabilidade
Um aspecto da pecuária do Pantanal que favorece a preservação do bioma é que ela faz muito uso de pastagens nativas. Além disso, os pecuaristas da região tendem a produzir bezerros, ao invés de trabalharem com a fase de engorda do gado. “No caso do pantaneiro, ele ganha na extensão [das terras], conseguindo criar muitos bezerros. Depois, os pecuaristas do Cerrado vão comprá-los e encaminhá-los para a etapa de engorda, que exige mais capim e, portanto, maior área desmatada”, diz o chefe-geral da Embrapa Pantanal.
“Nós temos hoje uma demanda muito forte no mercado mundial por produtos sustentáveis e um critério muito usado é a questão do balanço de carbono, ou seja, quanto de carbono você está evitando que seja liberado”, conta Lara. “Outro índice muito interessante e até mais assertivo é a manutenção da biodiversidade. Não basta apenas ter tantos hectares de vegetação, mas como está a saúde das populações de espécies nativas nessas áreas?”
Além disso, a carne das propriedades do FPS é rastreável. Ou seja, há a garantia aos frigoríficos e consumidores finais de que tais bovinos foram criados em condições sustentáveis desde a gestação.
“O Pantanal, assim, acaba se tornando um grande berçário de gado criado em condições sustentáveis”, afirma Lara.
Aliado aos índices ambientais, o programa conta ainda com fatores sociais que certificam que, por exemplo, as propriedades não apoiam trabalhos análogos à escravidão, ou que desrespeitem a vida de funcionários e moradores locais. Por fim, o programa conta também com serviços técnicos de extensão rural. “A nossa intenção, no futuro, é que os técnicos possam se qualificar no FPS e prestar serviço para essas fazendas, gerando assim uma rede de empregos de desenvolvimento e tecnologia”, Lara conta.
“Se caso houver um questionamento sobre a sustentabilidade da pecuária brasileira, o FPS tem uma tranquilidade muito grande de enfrentar os maiores especialistas do mundo para mostrar, por ‘A+B’, que nós entregamos índices sustentáveis atuais e de extrema qualidade”, conclui Jorge Lara.
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