Por Vinicius Marques
Você sabia que, ao reflorestar áreas desmatadas, é possível aumentar os níveis de absorção e estoque de gases do efeito estufa (GEE), podendo assim acumular créditos de carbono? Além disso, os gastos para a recuperação da vegetação podem ser consideravelmente reduzidos, quando adotado o método de regeneração natural assistida (RNA).
Foi com o intuito de pesquisar mais a fundo essa técnica para geração de créditos que, ainda em 1998, a Fazenda São Nicolau deu início ao Projeto Poço de Carbono Florestal, em uma antiga área de pecuária localizada em Cotriguaçu. Em mais de 20 anos, a propriedade já recuperou cerca de 2.103 hectares, com variados experimentos de restauração de solo.
Segundo Alan Bernardes, engenheiro florestal responsável pelo projeto, quando a fazenda foi adquirida, suas áreas estavam em processo de desmatamento, mas boa parte do solo armazenava um banco de sementes. “Assim, boa parte [da vegetação] foi capaz de se reestabelecer só pelo uso do isolamento”, explica Bernardes, em entrevista exclusiva ao Gigante 163.
“A partir do excedente de áreas de floresta que temos (ou seja, para além dos 80% de RL obrigatória), nós já tivemos duas validações que geraram créditos de carbono”, conta o engenheiro florestal. “Então a gente tem validado esses créditos e comercializado.”
Como o processo de regeneração natural assistida é feito?
As áreas degradadas da Fazenda São Nicolau foram divididas em 84 talhões — cada porção com diferentes técnicas de manejo, espaçamentos e combinações de espécies. Além desses espaços, o projeto separou áreas com o potencial para a RNA, isolando-as com a instalação de cercas e enriquecendo os solos com espécies nativas.
De acordo com Bernardes, a equipe necessária para o manejo da vegetação em recuperação é a parte que demanda mais custos no projeto, além dos insumos. Isso porque as pastagens existentes crescem em uma velocidade muito maior que a das mudas e espécies nativas em processo de regeneração. A pastagem acaba sombreando a muda, tombando e matando a vegetação, ele explica. Por isso, os custos com a manutenção são altos, para favorecer o desenvolvimento dessas espécies florestais.
“A regeneração natural, quando a área tem potencial e não é preciso fazer o plantio, é muito interessante. Algumas pequenas técnicas podem ser feitas para auxiliar no processo, como a roçada, adubação pontual e outras pequenas intervenções, evitando custos excessivos”, comenta o responsável pelo projeto.
O que mais o Projeto Poço de Carbono Florestal promove?
Além da recuperação de vegetação florestal, o projeto também realiza diversas iniciativas como: criação de um viveiro de mudas para APPs (Áreas de Preservação Permanente), apoio a comunidades locais, experimentos em sistema silvipastoril, programa de educação ambiental com crianças, eventos de ecoturismo, além do apoio a pesquisadores acadêmicos nacionais e internacionais.
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