Patrimônio histórico e ecológico de Sorriso, o rio Lira é o foco de um projeto que quer se ver replicado pelo Brasil afora. Por meio de intervenção em suas nascentes, o projeto “Águas do Lira – Nosso Rio Nosso Futuro” pretende promover a recarga dos seus lençóis freáticos, aumentando a disponibilidade hídrica, e consequentemente, melhorando a qualidade e aumento da vazão do rio.
“Fizemos um diagnóstico e se chegou ao resultado de que cerca de 40% de suas nascentes precisam de algum tipo de melhoria, visando ao aumento do volume de água da bacia”, afirma Cristina Delicato, coordenadora de Projetos e Sustentabilidade do CAT (Clube Amigos de Terra) Sorriso, ONG idealizadora do projeto.
Para se ter uma ideia da relevância do Lira, que nasce em Sorriso e desagua no Teles Pires, a bacia hidrográfica do rio possui uma área de 91.297 hectares e 109 nascentes. “Ele é bastante importante, tanto em termos de tamanho como por cortar muitas propriedades rurais. Temos nascentes na área urbana e na zona rural”, explica Cristina ao Gigante 163.
No projeto, estão previstas a construção de curvas de nível, bacias de contenção, instalação de drenos, plantio de mudas, limpeza e até desassoreamento em alguns pontos.
No começo do ano, houve um projeto piloto do Águas do Lira, graças a um edital do Instituto Mosaic, que trabalhou na recuperação de 11 nascentes do rio.
“Era um recurso pequeno, então foram feitas curvas de nível, instalamos drenos, com nascentes em que foram instalados mais de 35 drenos. Mas não temos ainda o resultado porque é muito pouca nascente pra saber o que essa intervenção gerou no aumento do volume de água do rio”, afirma Cristina.
A ideia, de acordo com Cristina, é tornar o projeto referência para que outros municípios também façam ações como essa, uma vez que a situação da falta de água na região é gravíssima.
Segundo um estudo do MapBiomas, feito a partir da análise de imagens de satélite geradas entre 1985 e 2020, o Mato Grosso perdeu, nestes 36 anos, mais de 530 mil hectares de superfície de água. É o segundo Estado do País com a maior perda absoluta e proporcional. O primeiro é seu vizinho, Mato Grosso do Sul.
Cristina conta que é de Tangará da Serra (MT), onde a falta de água é realidade.
“Um município de 120 mil habitantes, que tem um rio chamado Sepotuba à sua volta, e onde se fecha o registro de manhã e só se abre à noite. Se você não economiza água, você tem que comprar água do rio pra colocar na sua caixa”, lamentou.
A coordenadora do CAT lembra que, 19 anos atrás, se cogitou uma intervenção na bacia do rio que abastece Tangará da Serra, mas nada foi feito. “Não conseguiram mobilizar os produtores rurais e a sociedade para resgatar essa água. Se este trabalho tivesse sido feito, o cenário hoje seria outro”, lamenta.
Ela alerta para a situação de Sorriso, que tem previsão de, em dez anos, mais do que dobrar o número de habitantes, de 100 mil para 250 mil pessoas.
“No nosso lençol freático, não tem água. A gente tem que começar de um projeto como esse para levar a conscientização da importância da água. A água é nosso maior tesouro e nós temos que fomentar projetos que venham a preservar, a garantir, a estimular a produção de água”.
Para Cristina, este é um projeto que já está começando tarde. “Mas temos que começar, vamos precisar de ajuda, queremos todo mundo junto. Nos ainda não iniciamos mobilização em torno dos produtores rurais, mas sabemos que ele vai abraçar este projeto porque vai ajudar ter mais água na fazenda dele”, acredita.
De acordo com ela, o Águas do Lira está em fase de estabelecer parcerias, tanto no âmbito governamental, como da iniciativa privada, instituições e produtores rurais. Orçado em R$ 3,5 milhões, o projeto ainda não tem patrocinadores. “Não é um valor tão alto, a gente até se surpreendeu. E é um valor que, por exemplo, empresas que apoiarem o projeto podem pagar o passivo ambiental delas através de uma inciativa como essa”, lembra Cristina.
O que não falta no município são empresas de grande porte que poderiam encampar o projeto: Caramuru, Nutribras, Águas de Sorriso são apenas alguma delas. O projeto já conta com o apoio técnico da Embrapa e logístico da Prefeitura de Sorriso. “Por isso conseguimos custos baixos”.