As altas temperaturas têm preocupado agricultores e pecuaristas em Goiás, onde os termômetros ultrapassaram os 41°C em setembro. Como o calor pode provocar danos às lavouras e reduzir a produção de leite, produtores já estão investindo em medidas como “protetor solar” para as plantas e em climatização para o gado.
Considerando que a temperatura ideal para a produção é entre 25°C e 30°C e que, em cenários mais quentes a folha da oleaginosa pode não fazer a fotossíntese, o temor é que as plantas não se desenvolvam e não criem raiz ou gerem as vagens com os grãos, causando perda na produção total.
Para tentar minimizar os impactos, os agricultores estão adotando diferentes medidas. De acordo com o G1 Goiás, uma delas é um “protetor solar” para plantas chamado Surround WP, que diminui a temperatura das plantas em uma média de até 4°C. O produto é borrifado sobre as folhas, garantindo que as plantas consigam produzir até três horas a mais por dia.
Com plantações de feijão e soja em diferentes cidades do estado, André Marques é um exemplo desses esforços.
“Nos últimos dois anos, a temperatura foi muito alta. Ano passado, as plantas estavam sofrendo muito, a plantação estava muito lenta. Eu usei esse produto e, se não fosse ele, eu teria tido uma colheita 15% menor”, estima.
De acordo com o agrônomo Diogo Alfaix, o produto filtra a radiação solar, permitindo que a folha não feche os estômatos e pare o metabolismo.
“Assim, essa folha ativa fica fazendo fotossíntese por um período a mais por dia, gerando mais energia, e a planta consegue se desenvolver melhor, fazendo mais flores, mais folhas e mais grãos.”
Outra estratégia importante é mencionada por Ivan Roberto, que aposta no plantio direto, semeando sobre a palha do milho da safra anterior. Isso faz com que o solo fique mais coberto, diminuindo a temperatura.
Para o agrônomo Wesley Sousa, as mudanças climáticas vão fazer com que produtores busquem saídas mais sustentáveis para garantir uma melhor produtividade no campo.
“Deixar essa palhada, evitar remover a cobertura vegetal, revirar o solo, diminuir o uso de máquinas e combustível, gerando uma agricultura mais sustentável e que vá garantir que o produtor não tenha uma perda tão grande no plantio. Quem já utiliza essas técnicas, já sai na frente”, afirma.
Pecuária
O pecuarista Frederico Machado trabalha com gado leiteiro e montou uma área climatizada, conhecida como “compost barn”. Ele explica que, em temperaturas acima dos 38°C, as vacas já começavam a entrar em estresse térmico, o que atrapalhava a produção de leite.
“Temos um barracão, uma estrutura bem grande, onde os animais recebem ventilação e aspersão com água na linha de cocho, quando estão se alimentando e quando vão para a ordenha”, explicou.
Com esse sistema, instalado há cerca de um ano e meio, as temperaturas dentro da estrutura chegam a ficar de 7°C a 10°C menor do que a temperatura ambiente.
“Com isso, as vacas chegam a produzir até 20% a mais quando estão trabalhando sem o estresse térmico. Antes, trabalhando fora do ‘compost barn’, tínhamos uma produtividade de 28 litros de leite por vaca. Agora, atingimos 37, 38, até 40 litros por vaca. Isso mostra o quanto é importante dar esse conforto térmico aos animais nesse período de altas temperaturas”, completou.
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