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Queimadas crescem 898% no Pantanal e alertam para tragédia

Queimadas crescem 898% no Pantanal e alertam para tragédiaSeca extrema e El Niño impulsionam números. Foto: Secom/MT

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Por André Garcia

A expectativa de que uma tragédia sem precedentes atinja o Pantanal neste ano cresce e o bioma, onde as chuvas estão abaixo da média histórica desde 2023, contabilizou 880 focos de queimadas só nos cinco primeiros meses do ano, o que representa um aumento de 898% em comparação ao acumulado de janeiro a maio de 2023 (90 focos).

Os dados são do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e mostram que este é o segundo maior valor para o período nos últimos 15 anos, menor apenas que os 2.128 registros de 2020. O número também é 253% maior que a média dos três anos anteriores (2021 a 2023), quando houve 255 focos.

Em um cenário de seca extrema, impulsionada pelo forte El Niño de 2023, os incêndios vêm se multiplicando e seguem quebrando recordes. Apenas em maio, houve 246 focos de queimadas na região, contra 33 em maio de 2023.

A temporada de estiagem, porém, está em seu início e a tendência é que eles aumentem entre agosto e outubro, com um pico em setembro, podendo atingir uma escala comparável à de 2020, quando o fogo devastou 30% das áreas naturais do bioma.

É o que reforça uma análise da ONG WWF-Brasil, que aponta que a falta de chuvas, a pouca quantidade de água acumulada no território, além do armazenamento de matéria orgânica seca, características dos solos pantaneiros, são alguns dos principais fatores que podem aumentar a proporção do fogo.

“Em 2020, tivemos aquele fogo catastrófico e as análises atuais mostram que os números de 2024 estão muito parecidos com os que tínhamos naquele ano. Felizmente, todos os setores e a sociedade pantaneira estão alertas porque têm consciência de que há possibilidade da repetição”, diz a analista de conservação Cyntia Santos.

Ação rápida para evitar catástrofe

A fala de Cyntia considera uma série de ações dos governos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, estados que  compartilham o Pantanal, que reconhecem a situação e já vêm adotando medidas para mitigar prejuízos. O período proibitivo de uso do fogo, por exemplo, foi prorrogado até o dia 31 de dezembro em ambos os territórios.

Sendo assim, foram destinados recursos para a locação de aviões, capacitação e contratação de brigadistas. Os governos também assinaram um termo de cooperação com o Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (MMA) para a proteção e desenvolvimento sustentável do Pant

Neste contexto, Cyntia destaca que Mato Grosso do Sul possui uma legislação que estabelece as instruções adequadas para as práticas de Manejo Integrado do Fogo (MIF).

“Essa lei cria um fundo que também visa projetos de Pagamento por Serviço Ambiental, que permitem que proprietários façam o manejo das pastagens e a prevenção de incêndios, promovendo melhorias no manejo e garantindo a sustentabilidade da convivência harmônica entre seres humanos, criação bovina e biodiversidade.”

Seca severa

No início de maio, a Agência Nacional de Águas (ANA) avaliou que Mato Grosso do Sul e Mato Grosso já estão em situação de seca. A escassez e as temperaturas elevadas na Bacia do Alto Paraguai não foram suficientes para transbordar os rios e conectar lagoas e foi declarada situação de escassez hídrica iminente na região.

Segundo o Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima (Cemtec) de Mato Grosso do Sul, no começo do ano as chuvas atingiram níveis de 600 a 800 milímetros, enquanto o normal seria de 1.400 milímetros.

“Os rios estão com baixos níveis em diversas partes do bioma e há previsão de que o Rio Paraguai se mantenha esse ano dentro dos níveis mais baixos da história”, reforçou Cynthia.

Recentemente, o Serviço Geológico Brasileiro (SGB) reportou que o Rio Paraguai, o principal da região,  apresenta seus menores níveis históricos. Na estação de medição de Porto Murtinho (MS), a altura foi mantida abaixo de 250 cm ao longo do ano, bem abaixo da média normal para o período, de 250 e 550 cm.

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